Mato-grossense "come fumaça"
Da Redação
Desde 2007 especialistas fazem alertas quanto a toxicidade dos gases formados pela queima de compostos orgânicos. Numa avaliação esporádica feita pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) em 2007 para avaliar a qualidade do ar entre os dias 18 e 23 de setembro daquele ano, foram constatados índices de 262,4 a 418 microgramas por metro cúbico de partículas totais em suspensão no ar em Cuiabá quando o recomendado pelo Conama são padrões até 240 microgramas por m3 para um padrão primário e 150 microgramas para padrão secundário. No último dia 21 o ar de Cuiabá chegou a 520ppb, o que significa que o ar que respiramos seria classificado como péssimo.
Ao mesmo tempo, a queima de vegetação produz temperaturas acima de mil graus centígrados e isso faz com que minerais presentes no solo sejam evaporados, entre eles metais pesados como como mercúrio, chumbo e cádmio. Ao chegar na atmosfera esses metais entram em contato com o oxigênio e se transformam em óxidos metálicos, que também ficam em suspensão no ar e, como a fuligem, são introduzidos no organismo humano através da respiração.
"A população respira gases extremamente tóxicos e nocivos à saúde humana, como o monóxido de carbono, metano, enxofre, ozônio, entre outros", comenta o professor de Engenharia Sanitária da UFMT, Paulo Modesto. O especialista alerta que o mais preocupante são os gases com alto poder de toxidade produzidos nas queimadas, como o monóxido de carbono (CO), óxido de nitrogênio, metano e ozônio. Ele destaca o CO como um dos mais nocivos do ponto de vista da toxidez, pois tem uma afinidade 200 vezes maior que o oxigênio pela hemoglobina do sangue. "Daí que as concentrações elevadas, e por muito tempo de exposição, comprometem a saúde", comenta.
Modesto diz que todos os anos os mato-grossenses, principalmente os cuiabanos, "comem fumaça" e que se esta situação permanecer nas próximas décadas, Mato Grosso poderá ficar inabitável nos períodos de queimadas.
Ele conta que há dois anos a reitoria da UFMT foi convidada pelo Estado a apresentar um projeto de implantação de um programa de monitoramento da qualidade do ar em Cuiabá de forma permanente, com 3 estações fixas e uma móvel, com medições também em Chapada dos Guimarães e Sinop. "Não adianta fazer medições esporádicas e sem metodologia apropriada para uma avaliação dos principais componentes emitidos pelas queimadas", diz. O pneumologista Clovis Botelho ratifica as preocupações do professor Modesto com relação ao excesso de CO no sangue da população. "Com certeza a exposição da população à fumaça das queimadas durante meses e por anos consecutivos vem reduzindo a expectativa de vida dos mato-grossenses", diz. (JS)
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