Mais de 60% dos brasileiros mostra aceitação quando o assunto é o racionamento deenergia e/ou de água. É o que aponta a pesquisa do Instituto Datafolha, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo* nesta segunda-feira, 09/02. Isso significa que dois em cada três brasileiros reconhece um cenário iminente e que, em algumas regiões do País, parece inevitável.
Na questão da água, 60% das pessoas dizem aprovar um rodízio de água na Grande São Paulo. Outros 38% se disseram contrários, 2% se mostraram indiferentes e 1% não soube responder. O levantamento ouviu 1.231 pessoas em nove cidades entre os dias 3 e 5 de fevereiro, e a margem de erro é de dois pontos, para mais ou para menos.
Na mesma pesquisa, 71% dos paulistanos ouvidos disseram já ter enfrentado falta de água em casa, em uma média de 16 dias por mês. E os culpados da crise hídrica? Para 39%, o ônus do problema recaí sobre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), enquanto outros 22% apontam “todos” como responsáveis. Por fim, 20% culpam a população e 9% o governo federal.
Quase a totalidade da população se disse ciente dos problemas, tanto de água quanto de energia, e para os paulistanos a estabilidade dos últimos dias no Sistema Cantareira – que operava em 5,9% – é um alento contra a perspectivava de um rodízio de até cinco dias sem água por semana, caso o nível dos reservatórios volte a cair, sobretudo a partir de abril, quando começa o período de estiagem.
ENERGIA ELÉTRICA
No âmbito energético, 65% da população brasileira – foram ouvidos 4.000 pessoas em 188 municípios do País – apoia um racionamento de energia elétrica. Já 27% acredita que é preciso esperar um pouco mais para adotar a medida, na expectativa de que os reservatórios se recuperem.
O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, já apontou que o racionamento pode ser adotado, caso a seca se intensifique nos próximos meses, diminuindo ainda mais o nível dos reservatórios brasileiros. Esse cenário pode levar o Brasil a uma recessão, de acordo com analistas.
Quanto à responsabilidade pela crise no setor, 32% dos entrevistados culpam o governo federal. Já 23% apontam “todos” como responsáveis, enquanto 18% acreditam que a população é culpada pela situação atual.
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O ano não começou fácil para donos de restaurantes e bares em São Paulo. Além da atual crise hídrica que a população está enfrentando, lidar com a queda de energia elétrica também passou a fazer parte da rotina dos empreendedores.
No mês passado, após um temporal, a queda de árvores foi uma das principais causas da falta de energia elétrica em alguns bairros paulistanos. Valter Luiz Sanches, sócio da Chopperia Genuíno, localizada no bairro Vila Mariana, teve que contratar gerador para abrir o bar. “O custo de aluguel de um gerador com dez horas de uso é de 1,2 mil reais”, conta. Ele ficou sem energia nos dias 14 e 15 de janeiro e, em outros, a queda de luz foi parcial.
O empresário afirma que tem oito protocolos registrados e pretende entrar com ação judicial contra a Eletropaulo. “Toda vez que acontecer, terei que recorrer a gerador”, diz Sanches. A chopperia tem uma equipe de 30 funcionários e uma casa com capacidade para 320 pessoas.
Com o objetivo de minimizar o uso de água no estabelecimento, Gilson de Almeida, proprietário do Na Garagem, localizado no bairro de Pinheiros, afirma que trabalhava com pratos e copos de vidros, mas resolveu trocar por produtos descartáveis. “A gente acumula a louça para lavar no dia seguinte quando sofre com corte de água”, conta.
No caso da churrascaria Gauchão Grill, na Praça da Árvore, zona sul da capital paulista, por conta da redução da pressão da água, o efeito foi mais ainda drástico: a casa precisou cancelar o turno almoço, o que diminui o faturamento e pode levar a demissões de funcionários.
Elidio Biazini, dono da rede Dídio Pizza, conta que desde que anunciaram que a Copa do Mundo seria realizada no Brasil, duas coisas o preocupavam: falta de mão de obra e de energia. “Em 2009, comecei a pesquisar o que poderia fazer e como suprir possíveis apagões”, explica. Na época, solicitou que todos os franqueados comprassem geradores movidos à gasolina, a um custo de 3,5 mil reais por loja. “Depois, incluímos no custo da operação”, afirma.
Fundada em 1994, a rede tem 23 unidades no estado de São Paulo. Biazini afirma que os geradores foram usados esporadicamente nesses últimos anos. Entretanto, desde novembro os geradores têm sido usados com mais frequência. “As unidades de Interlagos, Freguesia e Campinas chegaram a ficar três dias sem energia. Foi um diferencial, pois tivemos um volume maior de pedidos e não houve nenhuma perda”, conta.
Por causa dos cortes de água, ele substituiu todos os equipamentos de inox por sacos especializados para alimentos. “Você pode armazenar e depois descartar. Com isso, conseguimos economizar 30% ao mês na conta de água”, conta.
Enquanto alguns empresários acumulam prejuízos pela falta de água e energia, outras empresas conseguem aproveitar a ocasião como uma oportunidade. É o caso da rede de lavanderias 5àsec. Segundo Sérgio de Souza Carvalho Jr., diretor de marketing, TI e SAC da companhia, o faturamento das unidades em algumas regiões de São Paulo já crescia até 18% em outubro do ano passado.
De acordo com Percival Maricato, presidente da Abrasel/SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), desde abril do ano passado cartazes e adesivos são distribuídos para alertar sobre a importância de economizar água. “É possível trabalhar racionando água da caixa d’água, mas sem energia não tem como lidar”, explica.
Dependendo do período em que o estabelecimento ficar sem energia elétrica ou água, ele recomenda que os proprietários avaliem se é possível recorrer a uma indenização.
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As chuvas que devem chegar aos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste em fevereiro serão apenas 52% da média histórica, segundo estimativas iniciais doOperador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) divulgadas na última sexta (30/01). Fevereiro é um importante mês do período úmido.
No Nordeste as chuvas devem representar apenas 18% da média histórica, enquanto o Norte terá 76%. Apenas o Sul deverá continuar tendo afluências acima da média, a 126% em fevereiro.
O ONS estima ainda que nível de reservatórios das hidrelétricas do Sudeste do país aumentará para cerca de 20% ao final de fevereiro, ante 16,82% atualmente, segundo o Informe do Programa Mensal de Operação divulgado na sexta-feira.
O Sudeste é a região que concentra alguns dos principais reservatórios de hidrelétricas e é o maior centro de consumo de energia do país. As previsões do ONS são referentes a expectativas para o dia 28 de fevereiro.
No Nordeste, deve haver queda das represas dos atuais 16,63% para cerca de 14,8%. No Norte, o nível das represas deve subir dos atuais 35,2% para cerca de 45,6%. OSul, região que tem recebido mais chuvas, deverá ver o nível de suas represas em cerca de 62,7% no fim de fevereiro.
O consumo de carga de energia elétrica no país em fevereiro deve cair 0,7% sobre um ano antes, também segundo as estimativas do ONS.
(Com Estadão Conteúdo e agência Reuters)
Foto: Reinaldo Canato/VEJA
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