Formação da cozinha brasileira -
Vamos começar descobrindo o significado da palavra culinária. Segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa (FERREIRA,
A. B. H., 1986), a culinária é a arte de cozinhar, ou seja,
confeccionar alimentos, e foi evoluindo ao longo da história
dos povos para tornar-se parte da cultura de cada um. Cada
povo tem uma culinária diferente, um modo de preparar seus
alimentos. De acordo com a região, mudam os ingredientes,
as técnicas de preparo e até os utensílios.
A culinária também costuma refletir a religião de cada povo.
Por exemplo, a carne de porco é proibida entre judeus e mul-
çumanos e a carne de vaca entre os hindus. Também pode
refletir algumas opiniões sobre o uso da carne na alimentação
como é o caso do vegetarianismo, onde as pessoas não comem
alimentos de origem animal.
Você sabia que a culinária do Brasil sofreu influência
de vários países? No tópico abaixo, vamos aprender
como cada um destes países contribuiu com a cozinha
brasileira.
Contribuições de outras culturas
O Brasil possui uma culinária muito original. Ao longo dos séculos, o brasileiro aprendeu e transformou a culinária européia,
principalmente a de Portugal, adicionando as especiarias
trazidas do Oriente e os ingredientes da culinária indígena e
africana.
A culinária indígena já estava presente quando o país foi descoberto
e isso sem agredir ou colocar em risco o meio ambiente.
Foi a partir das trocas alimentares em conjunto com a
mistura de raças, culturas, gostos, cores e aromas que surgiu
uma culinária rica: a brasileira.
Os índios contribuíram de vá-
rias maneiras para a nossa
culinária, segundo os
recursos que cada tribo
possuía. Por exemplo, de
acordo com a forma de
obter a caça (arco e flecha,
lanças e machado de pedra); no modo de pescar; na coleta de frutas nativas como caju, goiaba,
cupuaçu, castanha-do-pará e no cultivo da mandioca e do
milho.
A cozinha de nossos índios era composta de carnes, peixes,
legumes, ervas, milho, muita mandioca e alguns grãos. As preparações
dependiam dos conhecimentos e dos utensílios que
cada tribo possuía. Algumas tribos não sabiam usar o fogo e
comiam peixe cru ou assado sobre a pedra aquecida pelo sol.
Nesta pedra, eles colocavam o alimento cobrindo com outra
pedra e jogando terra por cima. Já os índios que conheciam
o fogo, preparavam peixe assado envolto em folha de bananeira,
enterrado e coberto por brasas e usavam as vasilhas de
barro para cozinhar raízes, tubérculos, castanhas etc.
Assavam carnes e peixes no moquém, que são espetos paralelos,
sobre a brasa, pioneiro dos churrascos de hoje. Como
tempero usavam a pimenta, às vezes pura ou numa mistura
com sal, a qual chamavam ionquet – colocada diretamente na
boca, junto às carnes. Raramente cozinhavam os alimentos
na água. Quando o faziam, era em vasilhas de cerâmica. Não
conheciam fritura – técnica aprendida bem depois, com os
portugueses, que usavam para isso óleos vegetais (de oliva) e
gordura animal.
Fritura é uma técnica culinária onde os alimentos (carne,
peixe, frango ou legumes) são mergulhados em óleo
(ou outro tipo de gordura) a alta temperatura.
Como você pode observar, a farinha de mandioca, os alimentos
assados e cozidos em folhas de bananeira, as comidas feitas
com milho, o uso moderado do sal e condimentos, o uso
dos utensílios de cerâmica e o consumo de alimentos frescos
foram herdados dos índios.
Condimentos são substâncias utilizadas para realçar o
sabor dos alimentos ou para lhes dar sabor diferenciado.
Exemplos de condimentos utilizados na culinária brasileira:
açafrão, alho, canela, cebola, coentro, entre outros.
Uma das raízes mais importantes era a mandioca, considerada
a base da alimentação de muitas tribos. Da mandioca,
eles retiravam a farinha, a tapioca, o polvilho e o tucupi. Esses
produtos eram usados com certas carnes de caça assadas,
torradas ou trituradas no pilão, a famosa paçoca, ou serviam
para preparar mingaus, beijus e molhos. Desta forma, a farinha
de mandioca, um dos produtos mais consumidos no País,
e os outros produtos derivados da mandioca como a tapioca,
foram uma das maiores contribuições da culinária indígena.
Tucupi é um molho de cor amarela extraído da raiz
da mandioca brava, que é descascada, ralada e espremida.
Depois de extraído, o molho “descansa” para que a
goma se separe do líqüido. Inicialmente venenoso devido
à presença de um ácido, o líqüido é cozido (processo que
elimina o veneno) por horas, podendo, então, ser usado
como molho na culinária. O caldo obtido é acrescido de
alfavaca e chicória, ervas que caracterizam o tucupi.
Várias frutas eram utilizadas na alimentação e preparo de bebidas,
como, por exemplo, o caju. Os índios colhiam as frutas,
mas não as plantavam. O doce em sua cultura vinha do mel
de abelha, que era consumido puro, como simples gulodice
ou misturado a raízes e frutas, no preparo de bebidas fermentadas.
Nossa cozinha teve origem também nos hábitos dos escravos
negros, trazidos principalmente de Guiné e Angola, para preencher
a escassez de mão-de-obra nos trabalhos agrícolas durante
a colonização. Porém, inicialmente, a cozinha dos escravos
não conseguiu, no Brasil, reproduzir inteiramente os pratos
típicos da sua terra. Eram ignorados, pois era considerada
uma culinária da senzala. Com o tempo, a população negra foi
aumentando e sua cultura começou a influenciar a população
brasileira, principalmente em relação à culinária, com algumas
técnicas de cocção e conservação de alimentos.
Uma das contribuições mais importantes da cozinha africana
é o azeite de dendê, o coco-da-bahia, o quiabo (ingrediente
indispensável na culinária africana), a cebola, o alho e a pimenta
malagueta. A palmeira de onde o dendê é extraído veio
da África para o Brasil nas primeiras décadas do século XVI.
Todos os pratos trazidos da África foram recriados pelos brasileiros. A
paçoca é, geralmente, a
carne ou o peixe pilados
(esmagados) e misturados
com a farinha.
Técnicas de cocção são
os métodos de cozimento,
como assar, grelhar, cozer,
entre outros.
Guiné e Angola são países da
África que passaram a usar o azeite de dendê e outros alimentos
locais.
O uso do leite também foi introduzido pelos negros, pois estes
já estavam habituados com a criação de cabras, vacas e carneiros.
Na Bahia, onde um grande número de escravos negros
se instalou, pode se observar uma forte influência africana na
culinária. Alguns exemplos de pratos são o acarajé, o abará, o
vatapá e o caruru.
A escrava negra também apresentou um papel de destaque
na culinária brasileira, como cozinheira do “senhor branco”,
onde demonstrou ser uma ótima quituteira. Foi ela, certamente,
quem preparou a primeira feijoada, um prato realmente
brasileiro, que nasceu na senzala e era feito com as partes menos
nobres do porco, que sobravam da mesa dos senhores.
Resumindo, a feijoada é o resultado das condições de pobreza
em que os negros
viviam e, foi a partir
de restos de carnes,
que eles criaram um
dos pratos típicos
mais apreciados em
todo o Brasil.
O feijão era apreciado tanto por africanos como por portugueses,
o que o levou a ser um prato de destaque na mesa do
brasileiro, tornando-se prato nacional, consumido pelos ricos
e muitas vezes sendo o único alimento do pobre.
O caruru é outro prato típico da culinária africana, feito com
inhame, que manteve o nome indígena, mas com outros ingredientes
como galinha, peixe, carne de boi ou crustáceo.
Outras receitas foram surgindo com o tempo, como a rapadura
e as comidas de milho e coco, como canjicas, munguzás,
angus e pamonhas.
Os negros também não conheciam a fritura, e as bebidas, só
as fermentadas feitas a partir de palmeira (dendê), sorgo e mel
de abelha.
Os europeus, principalmente os portugueses, contribuíram
com diversos tipos de alimento para a formação da culinária
brasileira. Eles tentaram reproduzir, por aqui, as características
de sua terra distante. Por isso, eles trouxeram o curral, o quintal
e a horta. No curral, eles criavam o boi, o porco domesticado,
o bode, o carneiro e a galinha, e assim veio uma grande
O sorgo é um cereal como o
trigo, o arroz e o milho. Ele é
usado na produção de farinha
para panificação, amido
industrial, álcool e como
forragem de solo.
Novidade: o ovo. Além disso, a partir desses animais, eles
começaram a fabricar queijo, requeijão, embutidos e defumados.
No quintal, plantavam limão, laranja, melão, melancia,
maçã e figo, e, na horta, acelga, alface, berinjela, cenoura,
coentro, cebolinha e couve.
Outra contribuição marcante foi na fabricação de bebidas
como o licor, fabricação de doces e conservas, dentre outros
produtos. Exemplos de doces: pudim de iaiá, arrufos de sinhá,
bolo de noiva, pudim de veludo.
Alguns ingredientes importantes foram introduzidos na culinária
brasileira como o coco, o sal, a canela em pó misturada
com açúcar e algumas receitas como sarapatel, o sarrabulho,
a panelada, a buchada e o cozido.
Diversidade e riqueza da alimentação regional brasileira
Agora que já sabemos as contribuições de outras culturas na
nossa culinária, vamos apresentar a diversidade e riqueza da
comida das cinco regiões do nosso país.
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