OS AFRICANOS NO BRASIL
Por Antonio Gasparetto Junior
Inicialmente, os portugueses ocuparam o litoral oeste do continente africano guiados pela esperança de encontrar ouro. O relacionamento com a população nativa era razoavelmente pacífica, tanto que os europeus chegavam a casar com mulheres africanas. Mas registros apontam que por volta de 1470 o comércio de escravos oriundos da África tinha se tornado o maior produto de exploração vindo do continente.
No século XV Portugal e algumas outras regiões da Europa eram os principais destinos para a mão de obra escrava apreendida no continente africano. Foi a colonização no Novo Mundo que mudou a rota do mercado consumidor de escravos e fez com que o comércio fosse praticado em grande escala.
 (Fonte:Wikipédia)
Os escravos capturados na África eram provenientes de várias situações:
- poderiam ser prisioneiros de guerra;
- punição para indivíduos condenados por roubo, assassinato, feitiçaria ou adultério;
- indivíduos penhorados como garantia de pagamento de dívidas;
- raptos em pequenas vilas ou mesmo troca de um membro da comunidade por alimentos;
A maior parte dos escravos vindos da África Centro-Ocidental era fornecida por chefes políticos ou mercadores, os portugueses trocavam algum produto pelos negros capturados.
A proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses muçulmanos ebantus. Cada um desses grupos representava determinada região do continente e tinha um destino característico no desenrolar do comércio.
Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: iorubas, gegês e fanti-ashantis. Esse grupo tinha origem do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa do Ouro e seu destino geralmente era a Bahia. Já os bantus, grupo mais numeroso, dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. A origem desse grupo estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique (correspondestes ao centro-sul do continente africano) e rinha como destino Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os guineanos-sudaneses muçulmanos dividiam-se em quatro subgrupos: fula, mandinga, haussas e tapas. Esse grupo tinha a mesma origem e destino dos sudaneses, a diferença estava no fato de serem convertidos ao islamismo.
Desde os primeiros registros de compras de escravos feitos em terras brasileiras até a extinção do tráfico negreiro, em 1850, calcula-se que tenham entrado no Brasil algo em torno de quatro milhões de escravos africanos. Mas como o comércio no Atlântico não se restringia ao Brasil, a estimativa é que o comércio de escravos por essa via tenha movimentado cerca de 11,5 milhões de indivíduos vendidos como mercadorias.
 (Fonte:Wikipédia)
A saudade da terra natal (banzo) e o descontentamento com as condições de vidas impostas eram a principal razão das fugas, revoltas e até mesmo dos suicídio dos escravos. A “rebeldia” era punida pelos feitores com torturas que variavam entre chicotadas, privação de alimento e bebida e o “tronco”. Durante essas punições, os negros tinham seus ferimentos salgados para provocar mais dor.
Fontes: http://www.eb23-diogo-cao.rcts.pt/Trabalhos/bra500/escravos.htm#locais http://pt.wikipedia.org/wiki/Tráfico_de_escravos_para_o_Brasil#como_o_africano_se_tornava_escravo http://www.ibge.gov.br/brasil500/negros/origem.html http://histoblogsu.blogspot.com/2009/12/origem-dos-escravos-africanos.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+Histoblog+%28HISTOBLOG+-+Hist%C3%B3ria+Geral%29
TUMBEIROS
Por Antonio Gasparetto Junior
Navios negreiros ou navios tumbeiros eram os nomes dados aos navios que realizavam o transporte de escravos, originários especialmente da África, até o século XIX.
A partir de 1432 quando o navegador português Gil Eanes levou para Portugal a primeira carga de escravos negros vindos da África que os portugueses começaram a traficar os escravos com as Ilhas das Madeiras e em Porto-Santo. Mais adiante os negros foram trazidos para o Brasil.
 (Fonte:Wikipédia)
A história dos navios negreiros é das mais comoventes. Homens, mulheres e crianças eram transportados amontoados em compartimentos minúsculos dos navios, escuros e sem nenhuma cuidado com a higiene. Conviviam no mesmo local, a fome, a sede, as doenças, a sujeira, os agonizantes e os mortos. Em média transportava-se 400 negros em cada compartimento desses.
Sem a menor preocupação com a condição dos negros, os responsáveis pelos navios negreiros amontoavam negros acorrentados como animais em seus porões que muitas vezes advinham de diferentes lugares do continente africano, causando o encontro de várias etnias e que por vezes eram também inimigas. Seus corpos eram marcados pelas correntes que os limitavam nos movimentos, as fezes e a urina eram feitas no mesmo local onde permaneciam. Os movimentos das caravelas faziam com que muitos passassem mal e vomitassem no mesmo local. Os alimentos simplesmente eram jogados nos compartimentos uma ou duas vezes por dia, cabendo aos próprios negros promover a divisa da alimentação. Como os integrantes do navio não tinham o hábito de entrar no porão, os mortos permaneciam ao lado dos vivos por muito tempo.
Quando o navio encontrava alguma dificuldade durante seu trajeto, o comandante da embarcação ordenava que os negros moribundos ou mortos fossem lançados ao mar, como alternativa para reduzir o peso do navio. Nestes casos, o mar acabava se tornando a única saída dos negros para a luz, antes de chegarem aos destinatários do comércio.
A organização da Companhia dos Lagos propunha-se a incentivar e desenvolver o comércio africano e dar expansão ao tráfico negreiro, sua viagem inicial motivou a formação de várias companhias negreiras, tais como: Companhia de Cacheu (1675), Companhia de Cabo Verde e Cacheu de Negócios de Pretos (1690), Companhia Real de Guiné e das Índias(1693) e Companhia das Índias Ocidentais (1636). No Brasil, devido ao êxito do empreendimento, deu-se a criação da Companhia Geral de Comércio do Brasil (1649).
Somente no século XIX que as leis proibiram o comércio de negros no Brasil, mesmo após o tráfico negreiro ter sido proibido, a escravidão permaneceu até 1888.
Fontes: http://www.grupoescolar.com/materia/o_trafico_e_os_navios_negreiros.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Navio_negreiro
NAVIO NEGREIRO (Castro Alves ) ...”Hoje... o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo, Tendo a peste por jaguar... E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado, E o baque de um corpo ao mar”... Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se eu deliro... ou se é verdade Tanto horror perante os céus... Ó mar, porque não apagas Co’a esponja de tuas vagas Do teu manto este borrão?... Astros! noite! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!...
O QUE É ESCRAVIDÃO ?
A escravidão é um capítulo da História do Brasil. Embora ela tenha sido abolida há 115 anos, não pode ser apagada e suas conseqüências não podem ser ignoradas. A História nos permite conhecer o passado, compreender o presente e pode ajudar a planejar o futuro. Nós vamos contar um pouco dessa história para você. Vamos falar dos negros africanos trazidos para serem escravos no Brasil, quantos eram, como viviam, como era a sociedade da época. Mas, antes disso, confira o texto da Lei Áurea, que fez com que o dia 13 de maio entrasse para a História.
"Declara extinta a escravidão no Brasil. A princesa imperial regente em nome de Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1º: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Art. 2º: Revogam-se as disposições em contrário.
Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.
O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua majestade o imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império.
Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o decreto da Assembléia Geral, que houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.
Para Vossa Alteza Imperial ver".
 O trabalho escravo num engenho de açúcar (fonte: Brasil Escola ) |  Escravo submetido a castigo físico. (fonte:sua pesquisa.com) |
Evolução Histórica
CULTURA AFRO-BRASILEIRA
Denomina-se cultura afro-brasileira o conjunto de manifestações culturais do Brasil que sofreram algum grau de influência da cultura africana desde os tempos do Brasil colônia até a atualidade. A cultura da África chegou ao Brasil, em sua maior parte, trazida pelos escravos negros na época do tráfico transatlântico de escravos. No Brasil a cultura africana sofreu também a influência das culturas europeia (principalmente portuguesa) e indígena, de forma que características de origem africana na cultura brasileira encontram-se em geral mescladas a outras referências culturais. Traços fortes da cultura africana podem ser encontrados hoje em variados aspectos da cultura brasileira, como a música popular, a religião, a culinária, o folclore e as festividades populares. Os estados do Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados pela cultura de origem africana, tanto pela quantidade de escravos recebidos durante a época do tráfico como pela migração interna dos escravos após o fim do ciclo da cana-de-açúcar na região Nordeste. Ainda que tradicionalmente desvalorizados na época colonial e no século XIX, os aspectos da cultura brasileira de origem africana passaram por um processo de revalorização a partir do século XX que continua até os dias de hoje.
Evolução histórica
 Escravos africanos no Brasil, oriundos de várias nações (Rugendas, c. 1830).
De maneira geral, tanto na época colonial como durante o século XIX a matriz cultural de origem europeia foi a mais valorizada no Brasil, enquanto que as manifestações culturais afro-brasileiras foram muitas vezes desprezadas, desestimuladas e até proibidas. Assim, as religiões afro-brasileiras e a arte marcial da capoeira foram frequentemente perseguidas pelas autoridades. Por outro lado, algumas manifestações de origem folclórico, como as congadas, assim como expressões musicais como o lundu, foram toleradas e até estimuladas. Entretanto, a partir de meados do século XX, as expressões culturais afro-brasileiras começaram a ser gradualmente mais aceitas e admiradas pelas elites brasileiras como expressões artísticas genuinamente nacionais. Nem todas as manifestações culturais foram aceitas ao mesmo tempo. O samba foi uma das primeiras expressões da cultura afro-brasileira a ser admirada quando ocupou posição de destaque na música popular, no início do século XX. Posteriormente, o governo da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas desenvolveu políticas de incentivo do nacionalismo nas quais a cultura afro-brasileira encontrou caminhos de aceitação oficial. Por exemplo, os desfiles de escolas de samba ganharam nesta época aprovação governamental através da União Geral das Escolas de Samba do Brasil, fundada em 1934. Outras expressões culturais seguiram o mesmo caminho. A capoeira, que era considerada própria de bandidos e marginais, foi apresentada, em 1953, por mestre Bimba ao presidente Vargas, que então a chamou de "único esporte verdadeiramente nacional". A partir da década de 1950 as perseguições às religiões afro-brasileiras diminuíram e a Umbanda passou a ser seguida por parte da classe média carioca[1]. Na década seguinte, as religiões afro-brasileiras passaram a ser celebradas pela elite intelectual branca. Em 2003, foi promulgada a lei nº 10.639 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), passando-se a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio incluam no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira.
Estudos afro-brasileiros
 Bloco afro Ilê Aiyê na Bahia
O interesse pela cultura afro-brasileira manifesta-se pelos muitos estudos nos campos da sociologia, antropologia, etnologia, música e linguística, entre outros, centrados na expressão e evolução histórica da cultura afro-brasileira Muitos estudiosos brasileiros como o advogado Edison Carneiro, o médico legista Nina Rodrigues, o escritor Jorge Amado, o poeta e escritor mineiro Antonio Olinto, o escritor e jornalista João Ubaldo, o antropólogo e museólogo Raul Lody, entre outros, além de estrangeiros como o sociólogo francês Roger Bastide, o fotografo Pierre Verger, a pesquisadora etnóloga estadunidense Ruth Landes, o pintor argentino Carybé, dedicaram-se ao levantamento de dados sobre a cultura afro-brasileira, a qual ainda não tinha sido estudada em detalhe Alguns infiltraram-se nas religiões afro-brasileiras, como é o caso de João do Rio, com esse propósito; outros foram convidados a fazer parte do Candomblé como membros efetivos, recebendo cargos honorificos como Obá de Xangô no Ilê Axé Opô Afonjá e Ogan na Casa Branca do Engenho Velho, Terreiro do Gantois, e ajudavam financeiramente a manter esses Terreiros. Muitos sacerdotes leigos em literatura se dispuseram a escrever a história das religiões afro-brasileiras, recebendo a ajuda de acadêmicos simpatizantes ou membros dos candomblés. Outros, por já possuírem formação acadêmica, tornaram-se escritores paralelamente à função de sacerdote, como é caso dos antropólogos Júlio Santana Braga e Vivaldo da Costa Lima, as Iyalorixás Mãe Stella e Giselle Cossard, também conhecida como Omindarewa a francesa, o professor Agenor Miranda, a advogada Cléo Martins e o professor de sociologia Reginaldo Prandi, entre outros. Os negros trazidos da África como escravos geralmente eram imediatamente batizados e obrigados a seguir o Catolicismo. A conversão era apenas superficial e as religiões de origem africana conseguiram permanecer através de prática secreta ou o sincretismo com o catolicismo. Algumas religiões afro-brasileiras ainda mantém quase que totalmente suas raízes africanas, como é o caso das casas tradicionais de Candomblé e do Xangô do Nordeste; outras formaram-se através do sincretismo religioso, como o Batuque, o Xambá e a Umbanda. Em maior ou menor grau, as religiões afro-brasileiras mostram influências do Catolicismo e da encataria europeia, assim como da pajelança ameríndia[4]. O sincretismo manifesta-se igualmente na tradição do batismo dos filhos e o casamento na Igreja Católica, mesmo quando os fiéis seguem abertamente uma religião afro-brasileira. Já no Brasil colonial os negros e mulatos, escravos ou forros, muitas vezes associavam-se em irmandades religiosas católicas. A Irmandade da Boa Morte e a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foram das mais importantes, servindo também como ligação entre o catolicismo e as religiões afro-brasileiras. A própria prática do catolicismo tradicional sofreu influência africana no culto de santos de origem africana como São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio de Categeró ou Santo Antônio Etíope); no culto preferencial de santos facilmente associados com os orixás africanos como São Cosme e Damião (ibejis), São Jorge (Ogum no Rio de Janeiro), Santa Bárbara (Iansã); na criação de novos santos populares como a Escrava Anastácia; e em ladainhas, rezas (como a Trezena de Santo Antônio) e festas religiosas (como a Lavagem do Bonfim onde as escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim em Salvador, Bahia são lavadas com água de cheiro pelas filhas-de-santo do candomblé). As igrejas pentencostais do Brasil, que combatem as religiões de origem africana, na realidade têm várias influências destas como se nota em práticas como o batismo do Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entidades espirituais (vistas como maléficas). Enquanto o Catolicismo nega a existência de orixás e guias, as igrejas pentencostais acreditam na sua existência, mas como demônios. Segundo o IBGE, 0,3% dos brasileiros declaram seguir religiões de origem africana, embora um número maior de pessoas sigam essas religiões de forma reservada. Inicialmente desprezadas, as religiões afro-brasileira foram ou são praticadas abertamente por vários intelectuais e artistas importantes como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia (que freqüentavam o terreiro de Mãe Menininha), Gal Costa (que foi iniciada para o Orixá Obaluaye), Mestre Didi (filho da iyalorixá Mãe Senhora), Antonio Risério, Caribé, Fernando Coelho, Gilberto Freyre e José Beniste (que foi iniciado no candomblé ketu).
 Filhas-de-santo do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá na Bahia
Religiões afro-brasileiras
- Babaçuê - Pará
- Batuque - Rio Grande do Sul
- Cabula - Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina
- Candomblé - Em todos estados do Brasil
- Culto aos Egungun - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo
- Culto de Ifá - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo
- Macumba - Rio de Janeiro
- Omoloko - Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo
- Quimbanda - Rio de Janeiro, São Paulo
- Tambor-de-Mina - Maranhão
- Terecô - Maranhão
- Umbanda - Em todos estados do Brasil
- Xambá - Alagoas, Pernambuco
- Xangô do Nordeste - Pernambuco
- Confraria
- Irmandade dos homens pretos
- Sincretismo
Arte
 Tecelã do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, Salvador, Bahia
O Alaká africano, conhecido como pano da costa no Brasil é produzido por tecelãs do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, no espaço chamado de Casa do Alaká. Mestre Didi, Alapini (sumo sacerdote) do Culto aos Egungun e Assògbá (supremo sacerdote) do culto de Obaluaiyê e Orixás da terra, é também escultor e seu trabalho é voltado inteiramente para a mitologia e arte yorubana.[6] Na pintura foram muitos os pintores e desenhistas que se dedicaram a mostrar a beleza do Candomblé, Umbanda e Batuque em suas telas. Um exemplo é o escultor e pintor argentino Carybé que dedicou boa parte de sua vida no Brasil esculpindo e pintando os Orixás e festas nos mínimos detalhes, suas esculturas podem ser vistas no Museu Afro-Brasileiro e tem alguns livros publicados do seu trabalho. Na fotografia o francês Pierre Fatumbi Verger, que em 1946 conheceu a Bahia e ficou até o último dia de vida, retratou em preto e branco o povo brasileiro e todas as nuances do Candomblé, não satisfeito só em fotografar passou a fazer parte da religião, tanto no Brasil como na África onde foi iniciado como babalawo, ainda em vida iniciou a Fundação Pierre Verger em Salvador, onde se encontra todo seu acervo fotográfico.
Culinária
A feijoada brasileira, considerada o prato nacional do Brasil, é frequentemente citada como tendo sido criada nas senzalas e ter servido de alimento para os escravos na época colonial. Atualmente, porém, considera-se a feijoada brasileira uma adaptação tropical da feijoada portuguesa que não foi servida normalmente aos escravos. Apesar disso, a cozinha brasileira regional foi muito influenciada pela cozinha africana, mesclada com elementos culinários europeus e indígenas. A culinária baiana é a que mais demonstra a influência africana nos seus pratos típicos como acarajé, caruru, vatapá e moqueca. Estes pratos são preparados com o azeite-de-dendê, extraído de uma palmeira africana trazida ao Brasil em tempos coloniais. Na Bahia existem duas maneiras de se preparar estes pratos "afros". Numa, mais simples, as comidas não levam muito tempero e são feita nos terreiros de candomblé para serem oferecidas aos orixás. Na outra maneira, empregada fora dos terreiros, as comidas são preparadas com muito tempero e são mais saborosas, sendo vendidas pelas baianas do acarajé e degustadas em restaurantes e residências.
Música e dança
A música criada pelos afro-brasileiros é uma mistura de influências de toda a África subsaariana com elementos da música portuguesa e, em menor grau, ameríndia, que produziu uma grande variedade de estilos. A música popular brasileira é fortemente influenciada pelos ritmos africanos. As expressões de música afro-brasileira mais conhecidas são o samba, maracatu, ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada, maxixe, maculelê Como aconteceu em toda parte do continente americano onde houve escravos africanos, a música feita pelos afro-descendentes foi inicialmente desprezada e mantida na marginalidade, até que ganhou notoriedade no início do século XX e se tornou a mais popular nos dias atuais. Instrumentos afro-brasileiros:
- Afoxé
- Agogô
- Atabaque
- Berimbau
- Tambor
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A DECADÊNCIA DA ESCRAVIDÃO
Já no início do século XIX era possível verificar grandes transformações que pouco a pouco modificavam a situação da colônia e o mundo a sua volta. Na Europa, a Revolução Industrial introduziu a máquina na produção e mudou as relações de trabalho. Formaram-se as grandes fábricas e os pequenos artesãos passaram a ser trabalhadores assalariados. Na colônia, a vida urbana ganhou espaço com a criação de estaleiros e de manufaturas de tecidos. A imigração em massa de portugueses para o Brasil foi outro fator novo no cenário do Brasil colonial.
Mesmo com todos esses avanços foi somente na metade do século que começaram a ser tomadas medidas efetivas para o fim do regime de escravidão. Vamos conhecer os fatores que contribuíram para a abolição:
1850 - promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que acabou definitivamente com o tráfico negreiro intercontinental. Com isso, caiu a oferta de escravos, já que eles não podiam mais ser trazidos da África para o Brasil.
1865 - Cresciam as pressões internacionais sobre o Brasil, que era a única nação americana a manter a escravidão.
1871 - Promulgação da Lei Rio Branco, mais conhecida como Lei do Ventre Livre, que estabeleceu a liberdade para os filhos de escravas nascidos depois desta data. Os senhores passaram a enfrentar o problema do progressivo envelhecimento da população escrava, que não poderia mais ser renovada.
1872 - O Recenseamento Geral do Império, primeiro censo demográfico do Brasil, mostrou que os escravos, que um dia foram maioria, agora constituíam apenas 15% do total da população brasileira. O Brasil contou uma população de 9.930.478 pessoas, sendo 1.510.806 escravos e 8.419.672 homens livres.
1880 - O declínio da escravidão se acentuou nos anos 80, quando aumentou o número de alforrias (documentos que concediam a liberdade aos negros), ao lado das fugas em massa e das revoltas dos escravos, desorganizando a produção nas fazendas.
1885 - Assinatura da Lei Saraiva-Cotegipe ou, popularmente, a Lei dos Sexagenários, pela Princesa Isabel, tornando livres os escravos com mais de 60 anos.
1885-1888 - o movimento abolicionista ganhou grande impulso nas áreas cafeeiras, nas quais se concentravam quase dois terços da população escrava do Império.
13 de maio de 1888 - assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel.
A Lei Áurea, que decretou o fim da escravidão no Brasil, em 13 de maio de 1888, foi um documento que representou a libertação formal do escravo, mas não garantiu a sua incorporação como cidadão pleno à sociedade brasileira.
O ex-escravo, abandonado à sua própria sorte, engrossou as camadas de marginalizados, que constituíam a maioria da população. Não possuíam qualificação profissional, o preconceito continuava e não houve um projeto de reintegração do negro à sociedade que acompanhasse a abolição da escravatura. Expulsos das fazendas e após vagarem pelas estradas foram acabando na periferia das cidades, criando nossas primeiras favelas e vivendo de pequenos e esporádicos trabalhos, normalmente braçais.
A escravidão deixou marcas na sociedade brasileira: a concentração de índios, negros e mestiços nas camadas mais pobres da população; a persistência da situação de marginalização em que vive a maioria dos indivíduos dessas etnias; a sobrevivência do racismo e de outras formas de discriminação racial e social; as dificuldades de integração e de inclusão dessas etnias à sociedade nacional e os baixos níveis de renda, de escolaridade e de saúde ainda predominantes entre a maioria da população.
A escravidão, portanto, fornece uma chave fundamental para a compreensão dos problemas sociais, econômicos, demográficos e culturais ainda existentes na atualidade.
LUTANDO PELA LIBERDADE
QUANDO TUDO ACONTECEU...
1600: Negros fugidos ao trabalho escravo nos engenhos de açúcar de Pernambuco, fundam na serra da Barriga o quilombo de Palmares; a população não pára de aumentar, chegarão a ser 30 mil; para os escravos, Palmares é a Terra da Promissão. - 1630: Os holandeses invadem o Nordeste brasileiro. - 1644: Tal como antes falharam os portugueses, os holandeses falham a tentativa de aniquilar o quilombo de Palmares. - 1654: Os portugueses expulsam os holandeses do Nordeste brasileiro. - 1655: Nasce Zumbi, num dos mocambos de Palmares - 1662 (?): Criança ainda, Zumbi é aprisionado por soldados e dado ao padre António Melo; será baptizado com o nome de Francisco, irá ajudar à missa e estudar português e latim. - 1670: Zumbi foge, regressa a Palmares. - 1675: Na luta contra os soldados portugueses comandados pelo Sargento-mor Manuel Lopes, Zumbi revela-se grande guerreiro e organizador militar. - 1678: A Pedro de Almeida, Governador da capitania de Pernambuco, mais interessa a submissão do que a destruição de Palmares; ao chefe Ganga Zumba propõe a paz e a alforria para todos os quilombolas; Ganga Zumba aceita; Zumbi é contra, não admite que uns negros sejam libertos e outros continuem escravos. - 1680: Zumbi impera em Palmares e comanda a resistência contra as tropas portuguesas. - 1694: Apoiados pela artilharia, Domingos Jorge Velho e Vieira de Mello comandam o ataque final contra a Cerca do Macaco, principal mocambo de Palmares; embora ferido, Zumbi consegue fugir. - 1695, 20 de Novembro: Denunciado por um antigo companheiro, Zumbi é localizado, preso e degolado.
Fernando Correia da Silva
 Zumbi dos Palmares (Fonte: Brasil Escola )
“A cada novo 20 de novembro Zumbi se espraia, amplia o seu território na consciência nacional, empurra para os subterrâneos da história seus algozes, que foram travestidos de heróis" Sueli Carneiro
O QUE ERA CARTA DE ALFORRIA?
Por Carolina de Sousa Campos Sento Sé
A Carta de Alforria era um documento cedido a um escravo por seu proprietário. Era um tipo de “atestado” de liberdade em que o proprietário abdicava dos seus direitos de posse sobre o escravo. Este último, após a Alforria, era chamado “negro forro”.
O nome “Alforria” não era usado somente no Brasil, mas em todas as colônias portuguesas que adotaram o regime escravista. Ele vem do árabe, em que a expressão pronunciada como “Al Horria” quer dizer “A Liberdade”.
 Exemplo de carta de alforria, datada de 1866. (Fonte:Wikipédia)
Existiram dois tipos de Carta de Alforria: as pagas e as gratuitas.
As cartas pagas geralmente eram feitas a prestação, por interesse dos proprietários. Assim, se o negro forro não pagasse uma prestação, voltava a condição de escravo. Outros meios utilizados para quitar a dívida eram pegar empréstimos (com amigos, familiares, instituições benfeitoras ou bancos), trabalhar por conta própria (geralmente vendendo na rua produtos que variavam entre bolos e doces, ou prestando serviços de barbeiro, carregador de peso, sapateiro, etc), pedir a um benfeitor que pagasse sua dívida em troca de um tempo determinado de trabalhos gratuitos ou os estranhos casos de troca, em que o escravo que recebia a alforria dava ao seu senhor um outro escravo para trabalhar em seu lugar.
As cartas gratuitas libertavam adultos e geralmente os reposicionavam como empregados do seu não mais proprietário. Deste modo, libertava-se um escravo e ganhava-se um trabalhador assalariado com uma carga horária diária pré definida. Também era comum a libertação de crianças e a promessa de educá-las e criá-las por partes do senhores. O momento histórico que registra a emissão de cartas de alforria gratuitas é importante porque mostra uma mudança de mentalidade na “alta sociedade” da época.
Bibliografia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alforria http://blog.uncovering.org/archives/2008/05/cartas_de_alforria_2.html http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/docAlforria.html
GRANDES ABOLICIONISTAS
Na luta contra a escravidão, algumas pessoas se destacam por sua dedicação à causa. Vamos conhecer alguns destes homens que ficaram conhecidos como abolicionistas?
Joaquim Nabuco
Nascido no Recife, Pernambuco, em 19 de agosto de 1849, Joaquim Nabuco desde cedo conviveu com a dura realidade dos escravos. Na infância, o menino de família aristocrata se alfabetizara junto com os filhos dos escravos numa escolinha construída pela madrinha.
Estudou Direito em São Paulo e Recife, escreveu poemas, era um patriota. Foi colega de Castro Alves e de Rui Barbosa.
O tema da escravidão estava presente em sua obra literária desde seu primeiro trabalho, nunca publicado, chamado "A escravidão". Porém, teve sucesso quando, em 1883, publicou "O Abolicionismo", durante período em que esteve em Londres.
Quando retornou ao Brasil, seguiu carreira política. Foi um grande parlamentar, um excelente orador. Fez uso de seu reconhecido talento público para lutar pela causa abolicionista, junto com José do Patrocínio, Joaquim Serra e André Rebouças.
É interessante observar que Nabuco era a favor da monarquia e ainda assim serviu fielmente à República como diplomata em Londres e Washington, após o fim do Império.
Joaquim Nabuco afirmava que a escravidão no Brasil era "a causa de todos os vícios políticos e fraquezas sociais; um obstáculo invencível ao seu progresso; a ruína das suas finanças, a esterilização do seu território; a inutilização para o trabalho de milhões de braços livres; a manutenção do povo em estado de absoluta e servil dependência para com os poucos proprietários de homens que repartem entre si o solo produtivo".
Morreu em Washington, no ano de 1910.
Rui Barbosa
Rui Barbosa nasceu em Salvador, Bahia, em 5 de novembro de 1849. Incansável, exerceu as mais variadas atividades profissionais. Foi advogado, jurista, jornalista, ensaísta, orador, diplomata, deputado, senador, ministro e candidato a Presidente da República duas vezes.
Sua participação na luta contra a escravidão foi uma das manifestações de seu amor ao princípio da liberdade - todo tipo de liberdade.
Assim como Joaquim Nabuco, estudou Direito em Recife e em São Paulo, mas foi no Rio de Janeiro que Rui Barbosa abraçou a causa da abolição. Contudo, a defesa da liberdade também levou-o a ser exilado, em 1893, quando discordara do golpe que levou Floriano Peixoto ao poder e, por isto, pedira a libertação de presos políticos daquele governo ditatorial.
Destaca-se em sua biografia sua passagem como presidente da Academia Brasileira de Letras, substituindo Machado de Assis, e o grande prestígio de ser eleito Juiz da Corte Internacional de Haia. Morreu em 1923.
José do Patrocínio
Natural de Campos, no Rio de Janeiro, José do Patrocínio nasceu em 8 de outubro de 1854. Era filho de pai branco, padre, e mãe negra, escrava. Freqüentou a Faculdade de Medicina e se formou aos 20 anos de idade, mas sua principal atuação foi como jornalista. Começou na Gazeta de Notícias, em 1875, e quatro anos depois juntou-se a Joaquim Nabuco, Lopes Trovão, Teodoro Sampaio, entre outros, na campanha pela abolição do regime escravocrata. Em 1881, tornou-se proprietário de um jornal, a Gazeta da Tarde, e fundou a Confederação Abolicionista, para a qual elaborou um manifesto junto com André Rebouças e Aristides Lobo.
Assim como Rui Barbosa, foi contra o governo de Floriano Peixoto, o que o obrigou a ser desterrado e tirou de circulação seu jornal, o Cidade do Rio, fundado em 1887. Com isto, afastou-se da vida política e terminou por falecer no Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1905.
André Rebouças
 Fonte: Academia Brasileira de Letras
André Rebouças, nascido em 1838, era filho de escravos. Estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro e se formou em Engenharia na Europa. Foi professor da Escola Politécnica, e durante toda sua vida preocupou-se com a realidade brasileira. O problema dos escravos, naturalmente, não lhe passou despercebido. Escreveu, junto com José do Patrocínio e Aristides Lobo, o manifesto da Confederação Abolicionista de 1883; foi co-fundador da Sociedade Brasileira Anti-Escravidão e contribuiu financeiramente para a causa abolicionista.
Apoiou a reforma agrária no Brasil e foi também inventor. Exilou-se voluntariamente na Ilha da Madeira, na África, em solidariedade a D.Pedro II e sua família, e lá morreu em absoluta pobreza.
Luís Gama
 Fonte: Academia Brasileira de Letras
Tal como José do Patrocínio, Luís Gama foi filho de uma miscigenação de cores. Seu pai era branco, de rica família da Bahia, e sua mãe era uma africana rebelde. Contudo, um episódio trágico faria com que se afastasse da mãe, exilada por motivos políticos, e fosse vendido como escravo pelo próprio pai, vendo-se à beira da falência.
Assim, viveu na própria pele o cotidiano de um escravo. Foi para o Rio e depois São Paulo. Aprendeu a ler com ajuda de um estudante, no lugar onde trabalhava como servente, mas logo fugiu – pois sabia que sua situação era ilegal, já que era filho de mãe livre
Daí trabalhou na milícia, em jornais, escrevendo poesia e como advogado, até conhecer Rui Barbosa, Castro Alves e Joaquim Nabuco, com quem se uniria para lutar pelo fim da escravidão.
Fez do exercício da advocacia uma oportunidade para defender e libertar escravos ilegais.
Antônio Bento
 Fonte: Academia Brasileira de Letras
Antônio Bento era um abolicionista de família rica de São Paulo. Foi advogado, Promotor Público e depois Juiz de Direito. Seus métodos não-ortodoxos, intransigentes e revolucionários para libertação dos negros o tornaram famoso. Promovia, juntamente com os membros da Ordem dos Caifazes (considerada subversiva na época), proteção a escravos que fugiam e incentivava a evasão dos negros das grandes fazendas.
Os historiadores narram que, para Antônio Bento, a escravidão era uma mancha na história do Brasil. Cristão fervoroso, há um registro de um episódio em que um negro, que havia sido torturado, teria sido levado por Antônio Bento a uma procissão. O efeito causado, além de mostrar as agruras da escravidão, foi de uma inevitável comparação do martírio do negro ao martírio de Cristo.
O POETA DOS ESCRAVOS
 Fonte: Academia Brasileira de Letras
CASTRO ALVES
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847, na fazenda Cabaceiras, a poucas léguas de Curralinho, no estado da Bahia. Em 1854, foi estudar na capital, Salvador. Aos dezesseis anos, mudou-se para o Recife, no estado de Pernambuco, com o objetivo de se preparar para entrar no curso de Direito. Foi reprovado em sua primeira tentativa, já que não havia dado muita atenção aos estudos, mas obteve sucesso no ano seguinte, em 1864, quando se matriculou na Faculdade de Direito do Recife.
Já em 1862 havia publicado um poema, “A destruição de Jerusalém”?, no Jornal do Recife. A este se seguiram “Pesadelo”?, “Meu segredo” (inspirado pela atriz Eugênia Câmara), “O Africano”? (seus primeiros versos abolicionistas) e outros.
O amadurecimento poético de Castro Alves pode ser percebido a partir de 1864, quando escreveu “Mocidade e Morte”, publicado com algumas modificações quatro anos depois, em São Paulo, onde foi morar com Maria Eugênia. Antes disto, o poeta intercalou períodos entre o Recife e a Bahia e escreveu o drama “Gonzaga”, que estreou com sucesso em 1867. Viajou para o Rio de Janeiro no ano seguinte e travou conhecimento com José de Alencar e Machado de Assis, que leram “Gonzaga”.
Já em São Paulo, em 1868, obteve sucesso declamando a “Ode ao Dous de Julho” e o “Navio Negreiro”. É importante lembrar da participação de Castro Alves na fundação de uma sociedade abolicionista, juntamente com Rui Barbosa, Plínio de Lima e outros, ainda quando morava no Recife, em 1865.
Castro Alves continua seus estudos de Direito em São Paulo. Contudo, em 1869, um disparo acidental numa caçada fere seu pé e a partir de então sua saúde fica debilitada, agravada por um enfraquecimento pulmonar. O poeta vai para o Rio de Janeiro, onde amputa o pé esquerdo, e no ano seguinte segue para a Bahia e lança “Espumas Flutuantes”.
Os últimos dias de Castro Alves se passam na capital baiana. Morre de tuberculose em 6 de julho de 1871, aos 24 anos. Nas palavras do também poeta Manuel Bandeira, é a perda da “maior força verbal e a inspiração mais generosa de toda a poesia brasileira”.
ORIGEM DOS AFRICANOS QUE VIERAM PARA O BRASIL
As origens (suas raízes) da cultura material e não-material afro-brasileiro está associada à época do tráfico de escravos africanos para o Brasil do século XVI até a segunda metade do Século XIX.
Os povos africanos trazidos para o Brasil são originários de diversas regiões da África:
África Ocidental - Yorubás (Nagô, Ketu, Egbá), Jejes (Ewê, Fon), Fanti-Ashanti (conhecidos como Mina), povos islamizados (Peuhls, Mandingas e Haussás);
África Central - Bantos: Bakongo, Mbundo, Ovimbundo, Bawoyo, Wili (conhecidos como Angolas, Congos, Benguelas, Cabindas e Loangos);
Sudeste da África Oriental - Tongas e Changanas entre outros (conhecidos como Moçambiques).
Estes povos trouxeram consigo para o continente americano seus costumes, crenças, línguas (hoje de uso litúrgico como o yorubá, o bakongo e o kimbundo), léxicos incorporados no nosso falar (línguas bantos), danças, ritmos, instrumentos musicais, culinária bem como seus deuses e seus ritos de culto.
Mesmo dispersos no território brasileiro e, por vezes misturados para não se rebelarem (fazendo jus ao ditado "dividir para reinar"), retiveram uma parte de sua cultura original para conservar sua identidade de grupo dominado. Por vezes, esta identidade constituiu mesmo um fator importante para resistir à escravidão. É o exemplo dos quilombos que existiram no Brasil-colônia dos quais o mais célebre foi o Palmares comandado por Zumbi. O Quilombo era uma instituição política dos guerreiros jagas ou yagas da Angola, termo que designava tanto a casa sagrada onde se realizavam as cerimônias de iniciação, como o campo de guerra e mais tarde o acampamento de escravos fugidos.
Algumas formas de organização permaneceram ou pelo menos conservaram uma certa identidade com as suas raízes culturais africanas. É o caso das religiões denominadas afro-brasileiras como o candomblé nagô, angola-congo, mina-jeje, ritos diversos do que se convencionou chamar de "nações" conforme suas origens étnicas na África. Por vezes, sincretizaram com outras religiões como a umbanda. Mesmo quando grupos de escravos se converteram ao catolicismo e adotaram rituais de devoção a santos padroeiros e protetores de negros como São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário, como nas congadas, moçambiques ou cabindas, mantiveram danças, ritmos, tambores e outros símbolos e mesmo uma certa dimensão do culto aos ancestrais.
É realmente inegável a herança cultural africana em nossa gente e essa influência não pode ser entendida se não voltarmos às origens, isto é, à história africana, desde os seus primórdios. Hoje é perceptível um ar de reparação a uma injustiça: desta forma se estará "resgatando" nossa herança e identidade africana, tão longamente escamoteada por uma historiografia etnocêntrica que resumia a figura do africano a um escravo submisso amarrado no tronco.
A África possui um verdadeiro significado simbólico para as multidões de afro-descendentes residentes nas antigas colônias. Essa indivíduos, via de regra, nunca puseram os pés em solo africano, mas vêem o Brasil como a matriz de um vasto patrimônio cultural brasileiro herdado das várias etnias africanas que para cá foram trazidas. Tal patrimônio engloba a língua, a música, os instrumentos, a dança, os utensílios, o artesanato o misticismo, a indumentária, os rituais, a culinária, o folclore, as festas, os folguedos, a linguagem corporal, a oralidade e a maneira de viver - herança chamada de "africanidade", que deu ao Brasil um colorido todo especial, com raízes africanas. Este imaginário comum nas suas origens são aspectos de uma história cultural a ser preservada, valorizada e conhecida pelo presente.
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Influência Negra no Brasil
O samba
Gênero musical binário, que representa a própria identidade musical brasileira. De nítida influência africana, o samba nasceu nas casas de baianas que emigraram para o Rio de Janeiro no princípio do século. O primeiro samba gravado foi Pelo telefone, de autoria de Donga e Mauro de Almeida, em 1917. Inicialmente vinculado ao carnaval, com o passar do tempo o samba ganhou espaço próprio. A consolidação de seu estilo verifica-se no final dos anos 20, quando desponta a geração do Estácio, fundadora da primeira escola de samba. Grande tronco da MPB, o samba gerou derivados, como o samba-canção, o samba-de-breque, o samba-enredo e, inclusive, a bossa nova.
A Escola de Samba
Uma coisa é o samba. Outra, a escola de samba. O samba nasceu em 1917. A primeira escola surgiu uma década mais tarde. Expressão artística das comunidades afro-brasileiras da periferia do Rio de Janeiro, as escolas existem hoje em todo o Brasil e são grupos de canto, dança e ritmo que se apresentam narrando um tema em um desfile linear. Somente no Rio, mais de 50 agremiações se dividem entre as superescolas e os grupos de acesso. O desfile das 16 superescolas cariocas se divide em dois dias (domingo e segunda-feira de carnaval), em um megashow de mais de 20 horas de duração, numa passarela de 530 metros de comprimento, onde se exibem cerca de 60 mil sambistas. Devido à enorme quantidade de trabalho anônimo que envolve, é impossível estimar o custo de sua produção. Uma grande escola gasta cerca de um milhão de dólares para desfilar, mas este valor não inclui as fantasias pagas pela maioria dos componentes, nem as horas de trabalho gratuito empregadas na concretização do desfile (carros alegóricos, alegorias de mão, etc.). Com uma média de quatro mil participantes no elenco, cada escola traz aproximadamente 300 percusionistas, levando o ritmo em sua bateria, além de outras figuras obrigatórias: o casal de mestre-sala e porta-bandeira (mestre de cerimônias e porta-estandarte), a ala das baianas, a comissão de frente e o abre-alas. Primeira escola de samba: Deixa falar, fundada em 12 de agosto de 1928, no Estácio, Rio de Janeiro, por Ismael Silva, Bide, Armando Marçal, Mano Elói, Mano Rubens e outros sambistas (foi extinta em 1933). Primeiro desfile oficial: Carnaval de 1935, vencido pela Portela.
Capoeira
A capoeira é uma dança de luta, ritualizada e estilizada, que tem sua própria música e é praticada principalmente na cidade de Salvador, estado da Bahia. É uma das expressões características da dança e das artes marciais brasileiras. Evoluiu a partir de um estilo de luta originário de Angola. Nos primeiros anos da escravidão havia lutas permanentes entre os negros e quando o senhor de escravos as descobria, castigava ambos os bandos envolvidos. Os escravos consideravam essa atitude injusta e criavam "cortinas de fumaça" por meio da música e das canções, para esconder as verdadeiras brigas. Ao longo dos anos, essa prática foi sendo refinada até se converter em um esporte sumamente atlético, no qual dois participantes desfecham golpes entre si, usando apenas as pernas, pés calcanhares e cabeças, sem utilizar as mãos. Os lutadores deslizam com grande rapidez pelo solo fazendo estrelas e dando espécies de cambalhotas. O conjunto musical que acompanha a capoeira inclui o berimbau, um tipo de instrumento de madeira em forma de arco, com uma corda metálica que vai de uma extremidade à outra. Na extremidade inferior do berimbau há uma cabaça pintada, que funciona como caixa de som. O músico sacode o arco e, enquanto ressoam as sementes da cabaça, toca a corda tensa com uma moeda de cobre para produzir um tipo de som único, parecido com um gemido.
Candomblé
Festa religiosa dos negros jeje-nagôs na Bahia, mantida pelos seus descendentes e mestiços, é um culto africano introduzido no Brasil pelos escravos. Algumas de suas divindades são: Xangô, Oxum, Oxumaré e Iemanjá, representando esta, por si só, um verdadeiro culto. As cerimônias religiosas do Candomblé, são realizadas de um modo geral em terreiros, que são locais especialmente destinados para esse fim, e recebem os seguintes nomes: Macumba no Rio de Janeiro, Xangô em Alagoas e Pernambuco. As cerimônias são dirigidas pela mãe-de-santo, ou pai-de-santo. Cada orixá tem uma aparência especial e determinadas preferências. O toque de atabaque, uma expécie de tambor e a dança, individualizam um determinado orixá. Os orixás são divindades, santos do candomblé, cada pessoa é protegida por um dos orixás e pode ser possuída por ele, quando, então ela se transforma em cavalos de santo.
Pratos
No Nordeste a marca africana é profunda, sobretudo na Bahia, em pratos como vatapá, caruru, efó, acarajé e bobó, com largo uso de azeite-de-dendê, leite de coco e pimenta. São ainda dessa região a carne-de-sol, o feijão-de-corda, o arroz-de-cuxá, as frigideiras de peixe e a carne-seca com abóbora, sempre acompanhados de muita farinha de mandioca. A feijoada carioca, de origem negra, é o mais tipicamente brasileiro dos pratos. Autoria: Erasmo Lopes
Danças, festas e instrumentos musicais de origem bantu Artur Ramos
Dança e música de influência angola-congolense saíram das macumbas e se estenderam pelas festas profanas. Dos instrumentos musicais negro-brasileiros, que reconhecem a procedência da África bantu, temos em primeiro lugar os tambores, um pouco diferentes dos atabaques iorubas. Os tambores de origem angola-congolense não têm o couro distendido por cordas e cunhas. A sua fabricação é mais simples. Registrei no estado do Rio de Janeiro os chamados tambores de jongo, com duas variedades principais: os maiores, tambus, e os pequenos, a que dão o nome decandongueiros. Entre os tambores de origem bantu, temos ainda o ingono de Pernambuco e outros estados do norte, e que alguns estudiosos julgaram erradamente ser o nome de um deus ou fetiche. Já demonstrei que o ingono (também chamado ingomba) nama mais é do que o ngomba ou angomba congolense, descrito pelo padre Cavazzi ou oangoma dos Lundas, referido pelo major Dias de Carvalho. Além do ingono, há ainda o zambê, que é um ingono menor, e que deu origem à dança coco de zambê, usada em alguns estados do Nordeste. A cuíca, já tão conhecida hoje em quase todo o Brasil, entrando mesmo na constituição de nossos conjuntos orquestrais típicos, é a mesma puíta angola-congolense, que toma outros nomes como roncador, fungador e socador, no Maranhão e Pará O urucungo, também chamado gobo, bucumbumba e berimbau-de-barriga, é o mesmorucumbo dos Lundas. Hoje, na Bahia, os negros capoeiras (de Angola) usam oberimbau ou gunga. Edison Carneiro, que estudou recentemente os jogos capoeira entre os negros baianos, assim descreve esse instrumento: "O berimbau nada mais é do que um arco de madeira, vibrado por uma vareta. A esse arco se junta a metade de uma cabaça, presa a ele por um cordão que atravessa o fundo da mesma. A parte oca da cabaça serve de caixa de ressonância, ligada ao peito do tocador. Este instrumento chama-se, na Bahia, berimbau ou gunga. Antigamente, havia outra espécie de berimbau, o berimbau-de-barriga, no qual, em vez de se ligar ao corpo, a cabaça — cabaça inteira, — ficava dependurada da extremidade superior do arco. O tiocador segura o instrumento com a mão esquerda, três dedos na extremidade inferior do arco e os outros, mantendo, em posição horizontal, uma moeda de cobre, que se encosta à corda de vem em quando. E na mesma mão (direita) que empunha a vareta, o tocador enfia um pequeno saco de palha trançada, fechado, contendo sementes de bananeira do mato, a que chamam os negros mucaxixi ou simplesmente caxixi." É como se vê uma variante do urucungo ou berimbau-de-barriga.Já procurei mostrar, em O negro brasileiro e em O folclore negro do Brasil, o contingente dos bantus na formação da música e dança negro-brasileiras. Do batuque angola-congolense surgiu, após sucessivas transformações, onosso samba, que toma nomes variados conforme as regiões. Certos nomes comoquimbete, sarambeque, sarambu, sorongo, caxambu, jongo... evocam nitidamente a origem bantu. Já descrevi fases de transformação. O folclore negro-brasileiro de procedência bantu é bem rico. Em primeiro lugar, temos as festas populares do ciclo dos congos ou cucumbis. São evidentemente sobrevivências históricas de coroação de monarcas, lutas dessas monarquias umas com as outras e contra o português invasor e episódio vários. Consagrei ao assunto todo um capítulo em trabalho anterior. Os festejos populares dos quilombos em Alagoas são também uma sobrevivência histórica, mas aqui dos episódios do quilombo dos Palmares. A sobrevivência totêmica dos povos bantus vamos encontrar em certos autos e festas populares negro-brasileiros, como cordões, ranchos e clubes carnavalescos,confrarias negras, maracatus do Nordeste, elementos do bumba-meu-boi... Com relação a este último auto, já mostrei o erro de alguns folcloristas, que o filiam apenas à tradição natalina do boi do presépio, de origem peninsular e ao ciclo dos vaqueiros de origem cabocla. O africano trouxe, ao meu ver, uma contribuição fundamental. O totemismo do boi é largamente disseminado, entre vários povos bantus (o boi Geroa, entre os Ba-Naneca, por exemplo). E toda a área oriental do gado não teria exercido uma influência decisiva entre os povos bantus, com toda a sua vida cultural girando em torno do complexo do gado?
Influências
Os quitutes do tabuleiro da baiana, os sons e cores dos blocos de afoxé, os movimentos das danças populares, os traços e formas da arte e os detalhes de nossas vestimentas provam o quanto estamos próximos da África. No programa ‘Influências’, quarto episódio da série ‘Mojubá’, entendemos como o nosso cotidiano foi enriquecido pela tradição religiosa africana e percebemos que a distância entre os dois continentes não é empecilho para a proximidade de suas culturas. Há cerca de cinco séculos, os navios negreiros trouxeram ao Brasil bem mais do que negros africanos que serviriam como escravos aos senhores de engenho. Junto com este povo de riquíssima cultura vieram as matrizes da culinária, da música, das artes e da religiosidade brasileiras. E assim como o acarajé, o samba e os rituais do candomblé e da umbanda, diversos elementos da tradição africana povoam até hoje o cotidiano do país.
“A comida sempre desempenhou um papel de ligação deste mundo material com o mundo espiritual. Através da comida acontece, na verdade, uma espécie do aproximação entre os habitantes de ambos os mundos. Dar comida a santo é, simbolicamente, compartilhar com o universo dos orixás o estado de vida existente nesta terra”.
“Cada entidade tem uma comida especial que passou a constituir também um prato característico da culinária brasileira, entre eles o acarajé e o abará, assim como o dendê e a pimenta. O mais interessante é que o significado de qualquer alimento vai além do que podemos ver”.
É interessante notar como a cultura negra chegou no Brasil praticamente dentro do ser humano africano. Ele não trouxe fotos nem gravuras: Trouxe memórias e a partir delas fez a sua história. Toda tradição é oral, que corre de geração em geração e, nesse sentido, é difícil separar arte, religião e vida”. Através da música, da dança e da espiritualidade, o candomblé expressa a harmonia dos ritmos do universo e faz circular as energias vitais. A força desta tradição se espalhou pelos quatro cantos do país, formando novas expressões culturais genuinamente brasileiras.
“Câmara Cascudo, nosso saudoso etnólogo, pesquisou e escreveu sobre a tradição dos festejos populares que vêm desde a época colonial, começando com as congadas, passando pelos cucumbis e chegando às modernas escolas de samba. Os desfiles carnavalescos de hoje evocam os cortejos dos reis banto que seguiam com suas embaixadas para visitar ou mesmo guerrear aldeias vizinhas, portando estandartes e tocando instrumentos. É toda uma tradição que veio desembocar em coisas que parecem distantes, mas não são”.
“Os ranchos são criados pelas negras baianas ligadas ao candomblé no final do século XIX. Elas fixam residência no Rio de Janeiro, então capital do país, e são muito festeiras. A partir de um determinado momento, o rancho, que antes circulava no Natal, passa a sair pelas ruas no Carnaval. A multiplicação desses ranchos, juntamente com os cordões - que eram blocos carnavalescos de negros, mas um pouco menos organizados – é, certamente, uma das principais origens da criação das escolas de sambas”.
“A sociedade brasileira é construída sobre uma revisão das civilizações africanas. A dinâmica da sociedade é a mesma há cinco séculos, mas as questões mudaram e hoje temos a lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira na rede escolar.
Congadas de Santa Isabel Ruth Guimarães
Santa Isabel ficou na tradição paulista como a cidade onde prevalecem, por excelência, os ritmos negros. Tem assim um certo banzo, um certo ar de Bahia minúscula, com seus ritmos, seus mistérios e suas tradições, encravada e esquecida num cantinho do estado bandeirante. Congadas se sucedem na pitoresca cidadezinha, em tardes de festa, é comum ver o Batalhão da Estrela, ou o Batalhão Branco e Preto, nome como designam os bandos de congueiros, descendo as ladeiras a partir do largo de uma das velhas igrejas e, depois, em evoluções coloridas em torno do jardim. A tarde em flor se enche de longos rumores. Tambores ressoam; e o som das violas se casa à melodia dos refrões cantados em louvor de São Benedito e de Nossa Senhora, os clássicos padroeiros das congadas. Um dos bandos canta, desfilando em passo de marcha batida, meio bamboleada, como que amolecida pela doçura insidiosa da música soturna e grave:
O sino já bateu O relógio já deu hora Vamos festejar com gosto A Virgem Nossa Senhora
Nas ruas, que as blusas fortemente coloridas dos congueiros aviva, o sol põe cintilações nas pontas das espadas. Outro bando, este caprichado, em roupas de cetim, lança ao vento, na fala cabocla, um verso expressivo, em ritmo sincopado, marcado pela batida dos pés:
Louvemos meu São Benedito! Louvemos meu São Benedito! Ora viva, minha Santa Cruz Nós cheguemo na porta da igreja Recebê o coração de Jesus
Então as voltas dos dançadores parece que deliram. Evoluções bordam nas ruas arabescos complicados, em que entram blusas pretas e brancas e onde dançam estrelas, desenhadas com purpurina no peito e nas costas dos congueiros. A estas horas, eles cantam a plenos pulmões, excitados pelo tum-tum dos tambus e pela cachaça, e também talvez pelo calor do sol cegante:
Louvemo o altar Louvemo o andor Meu São Benedito No meio da flor
Poetas rústicos, cheios de uma lírica devoção, os congueiros cantam versos como este:
Ai, bonita madrugada Ai, ai Oi lindo clarão do dia Encontrei Nossa Senhora da Guia Que Nosso Senhor Divino Esteja em nossa companhia
E quando a noite desce, e ficam os dançadores meio indistintos na fofa penumbra, parece que se ouve melhor (talvez por causa da tristeza da hora), parece que se ouve melhor a mansa cantiga:
Batalhão das sete estrela Traz bandeira da nação Viva o chefe da congada E toda a população Viva o nosso rei do congo Que comanda o batalhão
Anoitece e, com a noite, se intensifica o mistério. Reis do congo palpitam através da voz brasileira dos congueiros, na suavidade da sombra funda e imensa. (Guimarães, Ruth. "Congadas de Santa Isabel". Correio Paulistano. São Paulo, 05 de novembro de 1950)
Como a lua chegou ao céu
Narrada por Mayuluaípu, índio taulipangue. Esta lenda foi publicada pela primeira vez em 1917, em alemão, na obra de Theodor Koch-Grünberg, Mitos e lendas dos índios taulipangue e arekuná. Antigamente, Kapéi, a lua, não estava no céu, mas na terra. Aqui tinha uma casa. Ela pegou a alma de uma criança e a botou dentro duma panela, que ficou virada no chão. Então a criança ficou doente. Os pais chamaram um médico-feiticeiro e mandaram que ele soprasse a criança, à noite. Kapéi havia brigado com aquela gente. De noite o feiticeiro soprou a criança. Kapéi vivia com duas filhas já crescidas. Ele tinha mais uma panela grande e escondeu-se nela, mandando que suas filhas a emborcassem no chão. Disse às filhas: "Não mostrem onde estou, quando chegar o médico-feiticeiro! Também não digam onde está a crianças!" A criança era bonita e ele queria ficar com ela. Então o médico-feiticeiro chegou na casa e perguntou pela alma da criança. As filhas nada disseram. O médico-feiticeiro tinha um cacete. Entrou na casa e quis ver o que estava na panela. Sabia que a alma da criança estava naquela casa. Quebrou a panela com o cacete. Depois quebrou também a outra panela. Assim achou a alma da criança. Achou também Kapéi, que estava escondido na panela. Depois de pegar Kapéi, mandou um Ayúg, que tinha vindo com ele, levar de volta a alma da criança, mas outros Ayúg, que ele também tinha trazido, ficaram. Surrou Kapéi e expulsou-o da casa, dizendo-lhe: "Não fiques mais aqui" Vai embora!" Então o médico-feiticeiro voltou para sua casa. Kapéi ficou pensando em que iria se transformar. Ele disse: "Cutia se come! Anta se come! Porco do mato se come! Todos os animais de caça são comidos! Será que me devo transformar numa ave? Num mutum? Num cujubim? Num inambu? Também estes são comidos! Vou para o céu! Lá é melhor do que aqui! Vou iluminar de lá os meus irmãos! Vamos, minhas filhas, para o céu!" Com um cipó, Kapeienkumá(x)pe, a lua e as filhas fizeram uma escada e mandaram um pequeno pássaro levar o cipó para cima e amarrá-lo no céu. O pássaro pegou uma ponta do cipó e o levou consigo, amarrando-o na entrada do céu. Kapéi e as filhas treparam pela escada para as alturas e chegaram ao céu. Kapéi disse: "Ficarei aqui no céu! Vocês vão adiante, mais para cima, para iluminar o caminho! Ficarei aqui para iluminar os meus irmãos lá embaixo! Vocês devem iluminar o caminho dos que morrem, para que a sua sombra não fique no escuro!" Mandou uma das filhas mais para cima, para um céu mais alto. Mandou a outra filha para um céu ainda mais alto. Ele mesmo ficou no céu que está acima de nós. E aqui termina esta história.
Notas 1. Quer dizer, para curá-la. 2. "Estas moças eram filhas de duas mulheres (planetas) com as quais ele andava. De cada uma ele tivera uma filha", explicou o narrador. 3. Ayúg é a sombra, a alma, de uma árvore, um dos mais fortes auxiliares dos feiticeiros nas curas. 4. Ave galinácea. 5. "Ele chama a gente de irmãos", explicou o narrador. 6. Planta trepadeira esquisita, parecendo uma escada, que se encontra pendurada nas árvores. Através dela o feiticeiro sobre para o céu, quando cura um doente. O nome desta trepadeira, Kapéi-enkuma(x)pe, significa: "A lua subiu nela". 7. A Via Láctea, o caminho dos mortos; representado por estrelas. 8. A alma dos mortos. 9. Por cima do nosso céu existem, na crença dos taulipangue, mais dez céus, um sobre o outro. (Em Medeiros, Sérgio (org.). Makunaíma e Jurupari; cosmogonias ameríndias. São Paulo, Perspectiva, 2002 (Textos 13), p.78-80)
Cantando e dançando Ademar Vidal
Ainda pode ser encontrada dentro da noite alguma casinha de palha com danças e cânticos no terreiro. Mas se trata de festa em torno de gente que morreu. O defunto está estendido por ali, esperando a hora de ser enterrado. É assim. Logo que se constata haver o campanha morrido mesmo, pega-se o cadáver e duas ou três pessoas (são tidos como os privilegiados, os mais amigos, aqueles que não faltaram no último instante) se encarregam de banhá-lo da cabeça aos pés, desde que a tradição ordena: "o finado não pode entrar sujo no outro mundo". E depois dessa operação triste lá vem a bebedeira coletiva. Todos se embriagam em homenagem ao companheiro que desapareceu dentre os vivos. Não se faz distinção: o costume atinge tanto à mulher como ao homem. Ouve-se a cantoria mais desenfreada. Porém é a letra de samba que vem predominando ultimamente. Também do coco. Quem estiver de parte, olhando, não tem a menor desconfiança da existência de algum morto no salão — e muito menos que se esteja comemorando as "suas qualidades" reveladas quando tinha vida material. Por sua vez, a dança é alegre e rumorosa, juntando sereno com pessoas das redondezas que conheceram o defunto, não tinham dele nada que dizer de mau, até achavam ser "boa criatura que ia fazer muita falta à família". Essa dança macabra entra pela madrugada e somente acaba no instante em que o cadáver é posto dentro da rede e levado com acompanhamento ao cemitério mais próximo. Se for rede branca, foi morte natural; se for rede encarnada, foi morte de faca ou foice. Todo o singular espetáculo se desenrola em torno dos despojos. A música vem das originais orquestras do mato: cuíca, tambor e pandeiro. Instrumentos de corda e de sopro não são comuns, antes são muito raros. A homenagem deve ter sentido. E qual será ele? Investigando aqui e ali, chega-se à conclusão de que não existe outra finalidade naquela barulheira toda, coisa mais de carnaval ou de festa de São João ou de fim de ano — Natal ou Santos Reis: "o defunto precisa ser feliz na outra vida". Ou, como desejam: "entrar lá com o pé direito". A impressão generalizada é de que há "outro mundo além deste" — e com inferno, purgatório e céu. Portanto, há imperiosa necessidade de preparar o freguês, a fim de que vá parar não no inferno, quando muito no purgatório e, se possível, no céu como o lugar de maior sedução para quantos têm a ventura de viver com a fé posta na religião. As danças e cantorias em torno do cadáver não passam de ardentes augúrios de felicidade na hora da despedida definitiva. (Vidal, Ademar. Lendas e superstições; contos populares brasileiros. Rio de Janeiro, Empresa Gráfica O Cruzeiro, 1950, p.434-435)
A zabumba Valdemar Valente
No Nordeste, zabumba, além de ser o nome do bombo popular, designa também o conjunto musical típico, tradicionalmente mantido em cidades do interior. Conjunto geralmente formado de pifes (flautas de bambu), zabumba (bombo), tarol, popularmente chamado taró e, às vezes, um par de pratos. Guerra-Peixe, grande estudioso do folclore musical nordestino, autor de vários trabalhos sobre o assunto, entre eles, o excelente Maracatus do Recife, vem de publicar no número 26 da Revista Brasileira de Folclore, interessante ensaio, baseado em pesquisa realizada na cidade de Caruaru, do agreste pernambucano, focalizando a zabumba, que é a orquestra típica nordestina. Nesse estudo, o maestro Guerra-Peixe chama a atenção para aspectos diversos das zabumbas caruarenses. Depois de acentuar que o nome mais generalizado é zabumba — por causa da importância do bombo com seu característico toque cadencial — registra outras denominações, entre as quais: tabocal (em virtude dos pifes serem feitos de tabocas), banda-de-pife (lembrando as flautas), terne (porque o grupo instrumental é composto de três parelhas: dois pifes, dois tambores e dois pratos), às vezes também chamado de terno-de-oreia (porque os músicos tocam de oitiva). Entre as denominações, ainda: quebra-resguardo, para indicar conjuntos que executam mal, quebrando o sossego alheio; esquenta-mulher, em alusão à alegria contagiante da música do zabumba, numa espécie de convite frenético à dança. Com seu vasto repertório, no qual predominam músicas próprias, criadas pelos instrumentistas, com enxertos de cantigas ouvidas nos alto-falantes e aparelhos de rádio, abrangendo ainda dobrados, marchas, choros, valsas, tangos (os antigos tangos brasileiros), xotes (schottisch), quadrilhas, baiões e também ritmos diversos, deles destacando-se o martelo, o galope, a mazurca. A zabumba nordestina — tão bem representada em Caruaru — desempenha no meio das populações do interior importante e variada função social. Não só na vida social do catolicismo popular (novenas, procissões, batizados, casamentos), como em festas cívicas, durante os carnavais e como simples entretenimento público, nas retretas dos sábados e domingos. No seu bem documentado estudo sobre orquestras típicas de Caruaru, o maestro Guerra-Peixe fala dos pifes e das escalas, entra em minúcias sobre o zabumba, o tarol e os pratos, não esquecendo de fixar o opulento documentário rítmico-melódico.
Nota dos editores: Algumas partituras e MIDIs de temas extraídos do artigo de Guerra-Peixe estão disponíveis na seção Realejo. Ver >> (Valente, Valdemar. "A zabumba". Diário de Pernambuco. Recife, 23 de agosto de 19[??])
Beleza
Até a primeira metade do século XX, uma estética branca determinava os padrões de beleza em praticamente todo o mundo. Os meios de comunicação, amplificando uma postura de boa parte da sociedade, fizeram o possível para ridicularizar e desvalorizar qualquer estética que remetesse aos africanos. O postulado que vigorava era de que o cabelo crespo dos negros é intrinsecamente feio. O racismo presente nessa estética branca teve efeitos perversos e duradouros para os afrodescendentes, que, a cada momento, precisam afirmar sua identidade. A África nunca esteve distante do culto à beleza. Não apenas do corpo, mas também da beleza expressa nas diversas formas de arte. Na cultura africana, a concepção do belo está ligada ao bem e ao verdadeiro.
A Arte Africana
A arte é uma das marcas mais fortes dos povos africanos. Ela une utilidade e estética e está nos objetos, na música, na dança, na pintura corporal, no artesanato e nos rituais sagrados. A valorização da arte africana só aconteceu no final do século XIX, com a realização de uma exposição em Bruxelas, em 1897. A partir daí, ela se tornou fonte de inspiração para alguns dos principais artistas europeus, como Matisse, Braque e Picasso. Para essa cultura ancestral, todos os objetos do mundo estão ligados entre si e estão ligados ao corpo e ao espírito. A arte está sempre associada aos eventos e atividades da vida cotidiana, do nascimento à morte. Para o artista africano, nada é fixo ou estático, tudo é animado por um movimento cósmico. A arte é conhecimento e não imitação da natureza.
Beleza Negra
Ao longo da história, os cabelos receberam atenção especial nas culturas africanas e de matriz africana no Brasil. Em especial, nas culturas de origem banta. Em conjunto com o rosto, os cabelos definiam a pessoa e o grupo a que pertencia. É um complexo sistema de linguagem que pode indicar posição social, identidade étnica, origem, religião, idade. Principalmente a partir dos cabelos é possível resgatar memórias ancestrais. O negro é lindo! Esta era uma das premissas do movimento Black Power, surgido nos Estados Unidos em 1960, na luta pelos direitos civis dos negros. O movimento se espalhou pelo mundo e chegou ao Brasil. Adornos multicoloridos, tranças, dreads e blacks dão um toque bonito em qualquer visual. Mas, vão muito além da procura pela beleza. Assumir o gosto e o respeito pelas diferentes formas da estética negra sinaliza um pertencimento e um orgulho dessa herança. O corpo é o mais sagrado e completo instrumento de comunicação nas culturas africanas e afro-brasileiras de matriz banta. A linguagem corporal é compreendida tão claramente que a roupa não deve inibir nem privar seus movimentos, pois isto seria contra os princípios divinos. Assim como o corpo, a roupa mantém uma relação muito íntima com o sagrado. O negro não se veste, simplesmente. Ele se produz. Por trás de cada gesto há um ritual que o mantém ligado à ancestralidade. Quando põe sobre o corpo ouro e metais; sementes e objetos de madeira, búzios, ossos, peles ou suas imitações, mesmo inconscientemente, está se conectando com os três reinos originais: o mineral, o vegetal e o animal.
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Consciência Negra
20 de Novembro - Dia da Consciência Negra
A lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro no calendário escolar, data em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Af ro-Brasileira. Portanto, os professores devem inserir em seus planejamentos, aulas sobre: História da África , a luta dos negros no Brasil, a cultura africana e sua importância na formação da sociedade brasileira.
POR QUE 20 DE NOVEMBRO?
A escolha dessa data não foi por acaso: em 20 de novembro de 1695, Zumbi - líder do Quilombo dos Palmares - foi morto em uma emboscada na Serra Dois Irmãos, em Pernambuco, após liderar uma resistência que culminou com o início da destruição do Quilombo dos Palmares.
Comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra nessa data é uma forma de homenagear e manter viva em nossa memória essa figura histórica. Não somente a imagem do líder, mas também sua importância na luta pela libertação dos escravos, concretizada em 1888.
Seguindo a Nigéria, o Brasil é a segunda maior nação negra do mundo e tem cerca de 50% de af ro- descendentes entre sua população. Ainda assim, a história e as produções culturais das pessoas negras pouco se fazem presentes nos conteúdos escolares Especificamente no que diz respeito às artes, há a supremacia do código europeu como válido e as demais ocupam um lugar periférico e até mesmo invisível, fato que contribui para a negação dos códigos africanos e afro-brasileiros como elemento importantíssimo para a formação da cultura brasileira.
O termo afro-brasíleiro designa pessoas e objetos culturais e materiais de origem do continente africano.
No campo das artes, uma produção é considerada afro- brasileira quando congrega aspectos aparentes da arte dos povos africanos, cujas peças mais conhecidas entre nós são as máscaras e as esculturas.
O continente africano acolhe uma grande variedade de culturas, assim, as artes da África apresentam estilos, técnicas e funções diversas, conforme os valores culturais de cada etnia, o que não é diferente em outras partes do mundo.
De modo geral, as produções das diversas culturas africanas traduzem conceitos e valores sociais, educativos, simbólicos e mitológicos, de acordo com a cultura de sua comunidade.
As esculturas africanas possuem como características: desproporção, frontalidade e geometrização e são usadas com o propósito de alcançar um alto nível de harmonia entre o ser humano e a natureza. O significado exato desses objetos é quase sempre desconhecido, uma vez que depende da finalidade de cada peça e do ritual a que esta se destina.
Nos documentos históricos, entre os quais as cartas de viajantes estrangeiros que vinham ao Brasil, encontram-se os registros da presença de ourives, escultores, pintores e entalhadores negros, escravizados ou livres, que produziam peças de alta qualidade técnica cuja originalidade das produções era marcada pelas características étnico-culturais africanas. Muitas dessas esculturas possuem características da estética africana como a simetria, a desproporção, olhos e bocas salientes.

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