emergentes
China e Brasil evidenciam nova fase da crise global
O baque da economia mundial
iniciado há sete anos, avança, sobretudo nos últimos dois anos, sobre
economias emergentes antes consideradas imunes por suas políticas
anticíclicas
por Marcio Pochmann, para RBA
publicado
24/07/2015 09:21,
última modificação
24/07/2015 11:15
arquivo/EBC
Apesar das políticas anticíclicas com pesados investimentos estatais, economia chinesa dá sinais de desgaste
São Paulo – Iniciada há sete anos, a crise de
dimensão global não oferece tréguas aos países. Desde 2014 avança sobre
as economias consideradas emergentes como Rússia, Brasil e China, que
até então acreditava-se estarem imunes frente ao êxito das políticas
anticíclicas adotadas desde 2008.
O movimento de queda nas bolsas de valores de Xangai e Shenzen podem estar enunciando problemas mais graves instalados nos mercados imobiliários na China, a segunda mais importante economia do mundo. Isso, talvez, possa estar expressando uma certa ressaca frente ao esforço do governo chinês de evitar a contaminação da crise externa sobre a sua economia e, em especial, o seu povo.
Destaca-se que a China foi a nação que mais avançou nas políticas de natureza anticíclica. Apenas para exemplificar a dimensão do bloco de investimentos patrocinado pelo Estado frente à crise iniciada em 2008, contabiliza-se a construção de 30 novos aeroportos no país, a instalação em 25 cidades do sistema de metrô, e também de quase 10 milhões de quilômetros de autoestradas que cortam o país.
Ademais dos investimentos em infraestrutura, que aceleram a transição regulada de uma sociedade agrária para urbana e industrial, o país construiu uma dezena de novas e grandes cidades, com um novo arranha-céu a cada cinco dias, em média, diversas pontes de longa distância e inúmeros prédios comerciais e habitacionais. A participação do conjunto dos investimentos no total da produção do país passou de 40% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2008, para 50% do PIB, em 2014, algo jamais visto antes.
Tudo isso, contudo, dependeu da existência de financiamento. Em 2015, por exemplo, os bancos na China registravam a existência de quase 25 trilhões de dólares em créditos ante à contabilização de U$10 trilhões em 2008.
A fantástica multiplicação por 2,5 vezes o tamanho do seu sistema de bancos em apenas sete anos revela o vigor da economia, cuja dimensão equivale atualmente ao dos Estados Unidos. Mas pode, por outro lado, apontar também certa saturação deste tipo de esforço frente à estabilidade da inanição no interior da economia mundial.
De certa forma, embora em menor proporção, essa situação foi observada pelo desempenho da economia brasileira que assim como a chinesa registrou na primeira metade da década de 2010 importante desaceleração no ritmo de expansão do PIB. Entre 2008 e 2014, por exemplo, o mundo cresceu bem menos do que no período de 2000 e 2007.
Em função disso, percebe-se que a desaceleração das economias como a brasileira e chinesa podem estar evidenciando uma nova fase da crise de dimensão global. Uma primeira fase foi vislumbrada logo em 2008, com a queda do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos.
Em 2011, uma segunda fase da crise se verificou a partir dos problemas das contas públicas nos países da União Europeia. Desde 2014 percebe-se, uma terceira fase da crise de dimensão global a atingir mais fortemente países como Brasil e China.
Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp
O movimento de queda nas bolsas de valores de Xangai e Shenzen podem estar enunciando problemas mais graves instalados nos mercados imobiliários na China, a segunda mais importante economia do mundo. Isso, talvez, possa estar expressando uma certa ressaca frente ao esforço do governo chinês de evitar a contaminação da crise externa sobre a sua economia e, em especial, o seu povo.
Destaca-se que a China foi a nação que mais avançou nas políticas de natureza anticíclica. Apenas para exemplificar a dimensão do bloco de investimentos patrocinado pelo Estado frente à crise iniciada em 2008, contabiliza-se a construção de 30 novos aeroportos no país, a instalação em 25 cidades do sistema de metrô, e também de quase 10 milhões de quilômetros de autoestradas que cortam o país.
Ademais dos investimentos em infraestrutura, que aceleram a transição regulada de uma sociedade agrária para urbana e industrial, o país construiu uma dezena de novas e grandes cidades, com um novo arranha-céu a cada cinco dias, em média, diversas pontes de longa distância e inúmeros prédios comerciais e habitacionais. A participação do conjunto dos investimentos no total da produção do país passou de 40% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2008, para 50% do PIB, em 2014, algo jamais visto antes.
Tudo isso, contudo, dependeu da existência de financiamento. Em 2015, por exemplo, os bancos na China registravam a existência de quase 25 trilhões de dólares em créditos ante à contabilização de U$10 trilhões em 2008.
A fantástica multiplicação por 2,5 vezes o tamanho do seu sistema de bancos em apenas sete anos revela o vigor da economia, cuja dimensão equivale atualmente ao dos Estados Unidos. Mas pode, por outro lado, apontar também certa saturação deste tipo de esforço frente à estabilidade da inanição no interior da economia mundial.
De certa forma, embora em menor proporção, essa situação foi observada pelo desempenho da economia brasileira que assim como a chinesa registrou na primeira metade da década de 2010 importante desaceleração no ritmo de expansão do PIB. Entre 2008 e 2014, por exemplo, o mundo cresceu bem menos do que no período de 2000 e 2007.
Em função disso, percebe-se que a desaceleração das economias como a brasileira e chinesa podem estar evidenciando uma nova fase da crise de dimensão global. Uma primeira fase foi vislumbrada logo em 2008, com a queda do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos.
Em 2011, uma segunda fase da crise se verificou a partir dos problemas das contas públicas nos países da União Europeia. Desde 2014 percebe-se, uma terceira fase da crise de dimensão global a atingir mais fortemente países como Brasil e China.
Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp
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