Alimentação e Nutrição: qual a diferença?
Observe o título acima e reflita sobre a seguinte
pergunta: você sabe qual é a diferença entre a alimenta-
ção e a nutrição?
Para entendermos melhor essa diferença, vamos começar
com o significado da palavra alimentação. A alimentação é
um ato voluntário e consciente. Ela depende totalmente da
vontade do indivíduo e é o homem quem escolhe o alimento
para o seu consumo. A alimentação está relacionada com as
práticas alimentares, que envolvem opções e decisões quanto
à quantidade; o tipo de alimento que comemos; quais os
que consideramos comestíveis ou aceitáveis para nosso padrão
de consumo; a forma como adquirimos, conservamos e
preparamos os alimentos; além dos horários, do local e com
quem realizamos nossas refeições.
Agora que já entendemos o que é alimentação, vamos explicar
o que é nutrição. A nutrição é um ato involuntário, uma etapa
sobre a qual o indivíduo não tem controle. Começa quando
o alimento é levado à boca. A partir desse momento, o sistema
digestório entra em ação, ou seja, a boca, o estômago,
o intestino e outros órgãos desse sistema começam a trabalhar
em processos que vão desde a trituração dos alimentos
17 IMPORTANTE UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
até a absorção dos nutrientes, que são os componentes dos
alimentos que consumimos e são muito importantes para a
nossa saúde.
O Sistema digestório é formado por um conjunto de
órgãos que tem o papel de realização da digestão. Ele é
responsável por processar os alimentos que nós comemos
para disponibilizar os nutrientes necessários às diferentes
funções do nosso corpo, como o crescimento, a obtenção
de energia para as atividades do dia a dia, entre outros. Os
órgãos que formam o sistema digestório são: boca, faringe,
esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso
e o reto.
UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
18
Se tiver dúvidas sobre alimentos e nutrientes, vá ao
módulo 14 para esclarecê-las com maior detalhamento.
Como você verá melhor o conceito de nutrientes no módulo
14, vamos apenas comentar alguns pontos. Os nutrientes são
componentes dos alimentos que consumimos e estão divididos
em macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras)
e micronutrientes (vitaminas e minerais). Apenas os macronutrientes
são responsáveis pelo fornecimento de energia, que
às vezes é indicada como “caloria” do alimento.
Os carboidratos estão presentes nos pães, cereais, biscoitos,
frutas, massas, tubérculos e raízes. Além desses alimentos,
os carboidratos também estão presentes em produtos como:
açúcar refinado, chocolates, doces em geral, mas não são considerados
tão saudáveis quanto aqueles que estão presentes
em cereais, frutas, massas, etc.
A principal função do carboidrato é fornecer energia para o
corpo humano, sendo, na sua maioria, transformado em glicose.
A glicose é um açúcar, que é considerado o carboidrato
mais simples que existe. É uma das principais fontes de
energia do nosso corpo.
As proteínas são nutrientes que podem ser de origem animal
e de origem vegetal. As proteínas de origem animal são
encontradas principalmente nas carnes (aves, bovino, suíno,
pescado e outros animais); ovos; leite e seus derivados, como
queijo, requeijão, iogurte e outros produtos. As proteínas de
origem vegetal são encontradas nos diversos tipos de feijões,
soja, lentilha e grão-de-bico. Todas as proteínas são chamadas
de nutrientes construtores, pois são responsáveis pela
formação dos músculos e tecidos (como pele, olhos, nervos,
glândulas e outras estruturas); além de regularem outras fun-
ções importantes no nosso corpo.
19 IMPORTANTE UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
As gorduras animais (presentes em todo tipo de carne) e os
óleos vegetais (soja, milho, girassol, canola e outros) são os
nutrientes mais calóricos. Por isso, devemos consumir com
moderação os alimentos que nos fornecem as gorduras. Entretanto,
elas são importantes, pois mesmo em pequena quantidade,
fornecem ácidos graxos indispensáveis à manutenção
da saúde, além de facilitarem a utilização de vitaminas importantes
pelo corpo.
Os micronutrientes exercem outras funções no organismo,
tão importantes quanto as que são realizadas pelos macronutrientes,
conforme já visto. As vitaminas (A, D, E, K, C e todas
as vitaminas chamadas do complexo B) e minerais (cálcio,
ferro, potássio, fósforo e outros) estão presentes nas frutas,
verduras e legumes. Tanto as vitaminas quanto os minerais,
são essenciais na digestão, na circulação sangüínea e no funcionamento
intestinal, além de fortalecerem o sistema imunológico,
responsável pela defesa do nosso corpo contra invasores
como vírus, bactérias e parasitas.
Hortaliças é o nome técnico dado às verduras e aos
legumes, que são plantas ou parte de plantas que servem
para consumo humano.
Chama-se “verdura” quando a parte comestível do vegetal
são as folhas, flores, botões ou hastes, como acelga,
agrião, aipo, alface, almeirão, brócolis, chicória, couve,
couve-flor, escarola, espinafre, mostarda, repolho, rúcula,
salsa e salsão.
Chama-se “legume” quando as partes comestíveis do vegetal
são os frutos, sementes ou as partes que se desenvolvem
na terra, como cenoura, beterraba, abobrinha,
abóbora, pepino e cebola.
Como você pode ver, os alimentos fornecem nutrientes muito
importantes para nossa saúde. Somente uma alimentação
adequada em termos quantitativos e qualitativos pode fornecer
esses nutrientes. Por outro lado, o consumo inadequado
de alimentos pode trazer danos para a saúde das pessoas. Por
exemplo, o excesso de alimentos pode causar a obesidade e a
deficiência pode causar a desnutrição, como você poderá ver
nas próximas unidades.
UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
20
O consumo de alimentos com alta quantidade de gordura,
açúcar e sal (seja por quantidades erradas adicionadas no preparo
dos alimentos ou pela freqüência de consumo de produtos
industrializados que tenham alto teor de sal), pode causar
muitos problemas à saúde, como obesidade, diabetes, cárie
dental, hipertensão (pressão alta), alterações ortopédicas (relativa
aos ossos), aumento dos níveis de colesterol e triglicerí-
deos e doenças cardíacas.
Com isso, só confirmamos a idéia de que uma alimentação
saudável deve ser estimulada em todos os lugares, principalmente
na escola. E para que isso aconteça, você poderá colaborar
incentivando o consumo de frutas, verduras e legumes,
por exemplo, e diminuindo a oferta de alimentos ricos em
açúcar, gordura e sal. A Obesidade é o acumulo excessivo de gordura corporal,
sendo normalmente causada pelo consumo exagerado
de comida e falta de atividade física.
A desnutrição é uma doença causada por alimentação inadequada
e insuficiente, com baixa quantidade de energia
e proteína; também pode ser causada por má-absorção,
anorexia ou falta de apetite. Pode ter influência de fatores
sociais, e nesse caso, acomete principalmente indivíduos
de classe social mais desfavorecida. Também pode estar
relacionada a problemas psiquiátricos ou a alguma outra
doença.
Significados da alimentação
Como explicamos anteriormente, a alimentação não se resume
aos nutrientes. O ato de comer é influenciado por diversos
fatores como os valores culturais, sociais, afetivos e sensoriais.
Dessa forma, as pessoas, diferentemente dos animais, ao
se alimentarem, não buscam exclusivamente preencher suas
necessidades de energia e nutrientes, mas querem alimentos
com cheiro, sabor, cor e textura. Além disso, o conhecimento
científico, as religiões e a condição econômica do indivíduo
também influenciam nos hábitos alimentares.
Algumas religiões, por exemplo, costumam criar proibições
para o consumo de alguns alimentos, que são considerados
culturalmente nocivos.
21 IMPORTANTE UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
preocuparam, em seus livros sagrados, em estabelecer proibições,
mostrando o que os fiéis podem ou não comer.
Essas proibições são chamadas de tabus alimentares, que são
crenças e superstições relacionadas ao consumo de alguns
alimentos ou à combinação deles, que seriam prejudiciais à
saúde. Muitos folcloristas chamam estes tabus de faz-mal.
Você já deve ter conhecido alguma pessoa que não come carne
de porco ou que não misture manga e leite, não é?
Várias religiões proíbem o consumo de certos tipos de carnes.
Por exemplo, o judeu e o muçulmano não comem carne
de porco. A proibição do consumo de alguns animais pode
ser também pelo fato dele ser criado em casa, como bicho
de estimação. Já em outros locais, alguns tipos de carne são
proibidas por não serem consideradas comida, não necessariamente
porque tem o sabor ou o aroma ruins. Por exemplo,
algumas culturas comem certos tipos de gafanhotos, e em
outras, comer gafanhoto é nojento. Outros insetos, como larvas,
são associadas à comida estragada. Em alguns países do
oriente, porém, é comum comer grilos, gafanhotos, lagartas
e formigas. Em algumas regiões rurais do Brasil, costuma-se
comer içá (a parte traseira de algumas formigas).
O tabu alimentar também pode ser criado e mantido por razão
de saúde. Na maioria das culturas, o alimento sempre foi
relacionado à saúde e isso acontece não apenas porque o excesso
ou a falta de alimentos coloca em risco a sobrevivência
dos homens, mas, também, pelas instruções dadas por
alguns profissionais de saúde, que influenciam o tipo de dieta,
visto que alguns alimentos podem piorar a saúde ou atrapalhar
algum tratamento. Por exemplo, comer carne de porco
mal cozida pode levar à teníase ou comer alimentos ricos em
sal pode piorar a saúde de quem tem pressão alta.
Já no cristianismo, a cerimônia mais sagrada ocorre em torno
da ingestão do pão e do vinho, simbolizando o corpo e o
sangue de Cristo. Ser hinduísta é ser vegetariano. Com esses
A teníase é uma doença
causada por um verme
chamado tênia. O homem
adquire essa doença quando
come a carne de porco crua
ou mal cozida, contaminada
com os ovos desse verme.
UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
22
exemplos, queremos mostrar que é importante você descobrir
se existe na sua escola alguma criança que siga algum
tabu alimentar, a fim de criar alternativas para os lanches que
possuam algum alimento proibido para eles.
Os vegetarianos são aquelas pessoas que seguem
uma dieta baseada exclusivamente em alimentos de
origem vegetal. Eles excluem da sua dieta carne, ovos e
leite, assim como os produtos derivados deles. Os ovolactovegetarianos
não consomem carne, mas consomem
ovos e leite, e os lacto-vegetarianos, incluem apenas o
leite e derivados.
O conhecimento científico que você encontra em alguns jornais
e revistas, por exemplo, também influencia na escolha
dos alimentos, pois por meio dessas informações as pessoas
passam a conhecer quais alimentos são considerados saudáveis
e como eles podem ser utilizados da melhor forma.
Contudo, não basta ter acesso a esses conhecimentos para
mudar o hábito alimentar, pois normalmente as pessoas levam
em consideração os prazeres propiciados pela comida,
além dos vários fatores que interferem na formação do costume
alimentar.
O significado da alimentação também muda de acordo com
a condição econômica da pessoa. Para a população de baixa
renda, em geral, os alimentos são classificados entre os alimentos
“fortes” e os “fracos”. Os alimentos fortes são aqueles
que sustentam, como o arroz, feijão e carne, enquanto que os
fracos são as frutas, verduras e legumes, que servem somente
para “tapear a fome”.
Quando essas pessoas dividem os alimentos em fortes e fracos,
elas não se baseiam no valor nutritivo dos alimentos, mas
sim na capacidade que eles têm de matar a fome, como é o
caso dos alimentos fortes, que dão a sensação de “barriga
cheia”, pois são mais gordurosos e mais difíceis para digerir.
Normalmente, eles sabem que as frutas, verduras e legumes
são ricos em vitaminas e minerais, mas seu consumo deixa a
“sensação” de fome. Porém, isso torna a alimentação repetitiva
e pobre em vitaminas e minerais, o que pode prejudicar a
saúde dessas pessoas, principalmente das crianças.
23UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
Lembre-se que uma alimentação saudável deve ser variada,
com preferência para o consumo dos alimentos dos
vários grupos, como por exemplo, frutas, verduras e legumes,
feijão e grãos integrais. Dê preferência também aos
alimentos regionais ou locais.
Sabe-se que as crianças se acostumam aos hábitos alimentares
da família. Por outro lado, em situações onde a alimenta-
ção não é variada, elas poderão preferir alimentos como doces,
bolachas, guloseimas e refrigerantes, pois esses alimentos
são considerados mais saborosos. Para os pais, muitas
vezes dar esses alimentos para os seus filhos é uma forma de
demostrar afeto. Porém, é importante lembrar que o consumo
excessivo desses alimentos pode causar danos à saúde,
como obesidade, diabetes, pressão alta, entre outros.
E, por último, vamos falar do caráter social da alimentação,
presente desde o nascimento. Normalmente, nossas atitudes
em relação à comida são aprendidas cedo, desde a amamentação.
O leite materno é o primeiro alimento oferecido à crian-
ça e sua ingestão envolve o contato com a mãe. Com isso,
desde o início da vida, a alimentação está ligada ao afeto e
proteção quanto à presença feminina.
Por exemplo, o momento de afeto na alimentação pode ser
visto nos encontros familiares, que são momentos de conversação
e de troca de informações. A hora de comer é um momento
de socialização entre as pessoas. Todos se sentam à
mesa para comer, beber e celebrar o momento em que estão
juntos. Esse processo é chamado comensalidade.
Vamos entender o que significa comensalidade. Comensalidade
é a prática de comer junto, dividindo a comida, mesmo que
de forma desigual. A mesa, ao redor da qual ocorre a comensalidade,
é um dos símbolos das trocas familiares. É o local
onde se divide o alimento e a alegria dos encontros, as opini-
ões sobre os acontecimentos do mundo, sem a preocupação
de agradar, sem precisar disfarçar que se está bem.
Porém, hoje as refeições costumam ser feitas com os colegas
de trabalho, amigos ou até desconhecidos que se sentam à
mesma mesa. No caso de desconhecidos, não existe uma socialização,
mas pode surgir uma conversa, mesmo que seja
apenas naquele momento.
UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
24
Como você pode ver, os alimentos possuem vários significados
de acordo com a religião, cultura ou condição econômica.
Ciclos de vida (da alimentação da criança à
alimentação do adulto)
Na infância, a alimentação adequada é fundamental para garantir
o crescimento e o desenvolvimento normal da criança,
mantendo, assim, a saúde. Isso é muito importante, principalmente
entre os pré-escolares, pois eles se constituem em um
dos grupos populacionais que mais necessitam de atendimento,
em função de estarem em intenso processo de crescimento
e de serem vulneráveis às doenças.
Como você verá no módulo 12 – “Políticas de alimentação escolar”,
é muito importante ter uma criança bem alimentada
durante sua permanência em sala de aula, pois isso contribui
para a melhora do desempenho escolar, além de reduzir
a evasão e a repetência escolar. E para que isso ocorra,
sua colaboração é de extrema importância, pois o objetivo do
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é atender
às necessidades nutricionais dos alunos durante o horário em
que se encontram em sala de aula, contribuindo para o crescimento,
o desenvolvimento, a aprendizagem e o rendimento
escolar dos estudantes, bem como para a formação de hábitos
alimentares saudáveis.
Vamos começar entendendo a alimentação da criança desde
o primeiro ano de vida!
As práticas alimentares no primeiro ano de vida são muito
importantes na formação dos hábitos alimentares da criança.
Nos primeiros seis meses, espera-se que a criança receba exclusivamente
o leite materno ou retarde o máximo possível o
consumo de novos alimentos. A partir dos seis meses de vida,
outros alimentos devem ser acrescentados paulatinamente na
alimentação da criança, pois só o leite materno não satisfaz
mais as necessidades de nutrientes da criança. Nessa etapa,
são recomendadas duas papas de fruta e duas papas salgadas
ao dia. O leite materno pode ser oferecido nos intervalos das
refeições principais.
25UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
A partir de agora, vamos aprender as diversas fases que existem
desde o período pré-escolar até a idade adulta.
Pré-escolar
A fase pré-escolar compreende crianças de 1 a 6 anos de idade
e caracteriza-se por redução na velocidade de ganho de peso
e altura, o que leva a uma redução do apetite. Isso significa
que a criança continuará a crescer, só que com uma menor
velocidade, quando comparado ao primeiro ano de vida. Nessa
época da vida, as crianças necessitam de menos energia
para garantir o crescimento normal. Nesse período, o apetite
é irregular, apresentando variações de uma refeição para a
outra. Por exemplo, a criança pode comer muito no almoço e
não ter vontade de se alimentar na hora do jantar.
A diminuição do apetite pode estar associada a outros aspectos
como a atenção desviada para outras atividades, por
exemplo, andar e mexer em objetos espalhados pela casa.
Além disso, a criança começa a buscar o seu próprio alimento
e a mostrar recusa ou aceitação deste. Nesta fase é natural
que a criança recuse um ou vários tipos de alimentos. É a fase
A Coordenação Geral de
Políticas de Alimentação
e Nutrição do Ministério
da Saúde, em colaboração
com a Organização Mundial
de Saúde, estabeleceu os
10 passos da alimentação
saudável para crianças
menores de 02 anos. Conheça
esses passos no site:
http://dtr2004.saude.gov.
br/nutricao/documentos/10_
passos_final.pdf
A amamentação deve ser
estimulada até os dois anos
de idade, mas não deve
interferir na aceitação das
refeições básicas (almoço e
jantar).
UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
26
do “Eu não quero”, em que a criança, descobrindo suas pró-
prias preferências, diz não a tudo o que ela pensa não ser bom
para ela. Ou ainda, distraída com essa ou aquela brincadeira, a
criança simplesmente esquece de comer.
Essas novas descobertas costumam gerar ansiedade nas pessoas
que cuidam da criança, pois elas não têm mais controle
sobre a alimentação dos pequeninos, o que pode gerar atitudes
erradas. Por exemplo, é muito comum os pais usarem
certa “chantagem” alimentar com a criança, dizendo que se
não comer espinafre não vai jogar bola, ou ainda que, se não
comer chuchu, não vai comer a sobremesa. É uma tática que
muitas vezes dá certo, porém, a criança passa a associar o fato
de comer um alimento que não gosta a um prêmio ou o não
comer a um castigo, fazendo com que ela apenas coma por
obrigação e, assim, ela não cria um hábito alimentar sadio.
A falta de apetite também pode ser uma forma de chamar a
atenção dos pais, o que é muito comum entre as crianças,
mas que deve ter uma atenção especial, pois pode influenciar
negativamente os hábitos alimentares delas.
É nesta fase que a criança está desenvolvendo os seus sentidos
e diversificando os sabores, e, com isso, formando suas
próprias preferências. Suas escolhas alimentares são um dos
principais fatores que influenciam na alimentação da criança, e
essas preferências surgem por meio de experiências repetidas
no consumo de certos alimentos e da relação com o ambiente
social e familiar. Algumas maneiras utilizadas pela família para
estimular o consumo de alguns alimentos como frutas, verduras
e legumes, podem aumentar a rejeição da criança pelo
alimento. Por isso, não se deve forçar o consumo de nenhum
alimento, ao contrário, deve ser oferecido várias vezes, mas
sem uma atitude rígida.
27UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
Você sabia que as crianças normalmente preferem os
alimentos com maior densidade energética? Isto acontece
porque estes alimentos saciam a fome mais rápido, e
também garantem a quantidade de energia e nutrientes
suficiente para atender suas necessidades.
Por isso, adequar a alimentação da criança à dos pais não significa
dar a elas todos os alimentos que os adultos estão ingerindo
em casa. Evitar refrigerantes e substituí-los por suco
natural é recomendado. Não servir doces entre as refeições
e introduzir uma grande variedade de verduras e legumes
em suas refeições são chaves da “boa alimentação”, hábito
que, uma vez adquirido, segue com o indivíduo por toda a sua
vida.
Escolar
A fase escolar inclui crianças com idade de 7 anos até o inicio
da puberdade. No entanto, o escolar no âmbito educacional
é a criança de 6 a 14 anos de idade. Esta etapa caracterizase
por um lento e constante crescimento. Os dentes permanentes
começam a aparecer nesta fase. Desse modo, os bons
hábitos de saúde, como a alimentação e a higiene, devem ser
reforçados para evitar a ocorrência de problemas dentários,
como, por exemplo, a cárie.
Nesse período, a criança é mais independente e, portanto,
começa a demonstrar preferências, aversões, apresentando
senso crítico. Isso reflete diretamente nos hábitos alimentares,
promovendo uma melhor aceitação de preparações alimentares
diferentes e mais sofisticadas.
É nessa época da vida que ocorre um aumento da atividade
física por meio do uso de bicicletas, patins e outras brincadeiras,
o que aumenta o gasto de energia. Porém, é nessa fase
também que as crianças podem se tornar sedentárias com o
uso de videogames, computador e televisão. Por isso, é importante
que a escola estimule a prática de atividade física.
UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
28
O apetite do escolar costuma ser muito maior que o do pré-
escolar, sendo também compatível com o estilo de vida da
criança. Porém, a falta do café da manhã normalmente come-
ça nessa fase, provavelmente pela maior independência da
criança. Este aspecto deve ser observado pelos familiares e
pelos educadores, pois pode prejudicar o desenvolvimento da
criança, comprometendo o seu rendimento escolar. Por isso,
é importante que todas as crianças estejam bem alimentadas,
principalmente no período escolar, para evitar que fiquem desatentas
durante a aula. E para que isso ocorra, o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) deve estar funcionando
corretamente. Caso você identifique algum problema
no desenvolvimento do programa, entre em contato com os
órgãos responsáveis.
Atividade 1: Ao confirmar que existem
crianças que não se alimentam antes de ir para
a escola, você pode conversar com o(a) diretor(a)
da escola ou com o conselho da alimentação escolar
ou com o(a) nutricionista do seu município ou estado,
investigando se existe a possibilidade de servir o lanche
logo na chegada dos alunos na escola ao invés de
servir no intervalo das aulas.
Atividade 2: Quando for observado que todas as crianças
se alimentam antes de ir para a escola, você pode propor
que o professor aborde em sala de aula a importância do
aluno se alimentar de forma adequada antes de ir para
a escola, os benefícios desta prática e também podem
ser enfatizadas as conseqüências de uma alimentação
inadequada.
Escolha uma atividade e realize na sua escola. Lembre-se
de registrar essa atividade em seu memorial.
29UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
Outro problema verificado é a diminuição na ingestão de leite,
o que pode prejudicar o fornecimento de cálcio necessário
para a formação dos ossos. Essa situação pode piorar durante
o estirão da adolescência, período em que se atinge o máximo
da formação dos ossos, principalmente nas meninas, nas
quais o estirão ocorre entre os 10 e 11 anos de idade.
O cálcio é um mineral responsável pela formação
dos ossos e dentes. Em uma refeição diária normal, os
alimentos lácteos fornecem mais da metade da necessidade
de cálcio. Os outros alimentos que também contribuem
para a ingestão diária de cálcio são os vegetais de
folhas verdes, leguminosas, ovos, mariscos, nozes e castanhas.
É muito comum entre as mães a idéia de que, se a
criança não tomar leite, ficará com deficiência de cálcio.
Assim, elas acabam prolongando o uso das mamadeiras
pelas crianças até 5 ou 6 anos de idade e omitindo
ou retardando a introdução de outros alimentos. Porém, é
importante lembrar que outros produtos lácteos também
fornecem cálcio, como os iogurtes e os queijos.
Próximo à adolescência, os meninos e as meninas podem começar
a ganhar mais peso devido a um período de repleção
energética. Mas o que é repleção energética? É um processo
que ocorre quando o nosso corpo começa a poupar energia
na forma de gordura, para depois gastar com o crescimento
que ocorre na época do estirão da adolescência.
Normalmente, esse fato ocorre entre as meninas nas idades
de 8 a 10 anos e, entre os meninos, de 11 a 13 anos, mas esse
ganho de peso não pode ser muito grande. Por isso, verificase
que nesse período algumas crianças ficam mais gordinhas
e logo depois elas crescem e ficam mais altas e mais magras.
Resumindo, eles ganham peso inicialmente para crescer depois.
Por esses motivos, as crianças e os pais devem ser orientados
de que esse ganho de peso faz parte do processo de crescimento,
caso contrário podem achar que seus filhos estão
“gordinhos” e recomendarem então uma dieta, o que pode
O estirão da adolescência é,
após o primeiro ano de vida,
o período em que ocorre o
maior crescimento físico.
Ele tem duração média de 3
anos e começa mais cedo nas
meninas – por volta de 9,5/10
anos. Já nos meninos, iniciase
dois anos mais tarde, em
torno de 11,5 anos em média.
UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
30
atrapalhar o crescimento destas crianças. Sabe-se que, pior
ainda do que isso, o excesso de peso e, muitas vezes, a pressão
dos pais, podem gerar ansiedade nessas crianças e, assim,
elas realmente passam a comer mais e se tornam obesas.
Com isso, o mais importante nessa fase é possuir uma alimentação
saudável e o PNAE é uma das maneiras de promover a
saúde e os hábitos alimentares saudáveis. Como você pode
ver, sua ação é de extrema importância para a formação dos
hábitos alimentares da criança, pois, por meio da alimentação
oferecida na escola, as crianças podem aprender a se alimentar
de forma adequada e melhorar sua qualidade de vida.
Adolescência
A adolescência é um período de várias mudanças, que acontecem
dos 12 aos 20 anos de idade, e quando ocorrem diversas
alterações no corpo e no comportamento. Algumas mudanças
físicas que podem ser notadas são o crescimento das mamas
nas meninas, o surgimento de pêlos e o amadurecimento das
genitálias.
Além das alterações que ocorrem no seu corpo, o adolescente
começa a assumir mais responsabilidades e se torna mais independente,
o que provoca mudanças no seu comportamento.
Todas essas transformações da adolescência influenciam o
comportamento alimentar.
Para compreendermos melhor o
comportamento alimentar dos
adolescentes, nós precisamos
considerar que vários
fatores interferem nessa
fase da vida. Os principais
fatores externos são:
a família, as atitudes dos
amigos, as regras e valores
sociais e culturais, as informações
trazidas pela mídia,
por conhecimentos relativos à
nutrição e até mesmo por “manias”.
Já os fatores internos são formados pela imagem do seu pró-
prio corpo, por valores e experiências pessoais, preferências
alimentares, pelas características psicológicas, pela auto-estima,
pelas condições de saúde e pelo desenvolvimento psiGenitálias
são os órgãos
sexuais masculino e
feminino, ou seja, o pênis e
a vagina.
31 IMPORTANTE UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
cológico. Esses fatores estão ligados às condições sociais e
econômicas, à disponibilidade de alimentos, à produção e à
forma de distribuição de alimentos, o que leva a um determinado
estilo de vida, resultando em hábitos alimentares individuais.
Como vimos, os adolescentes são influenciados por vários fatores
na formação dos seus hábitos alimentares e, por isso,
eles se dividem em vários grupos, também de acordo com a
motivação com a qual selecionam os alimentos.
Porém, é importante lembrar que há informação disponível
sobre nutrição e alimentação saudável para os adolescentes,
mas eles têm dificuldade para aplicar esses conhecimentos,
pois alguns adolescentes também costumam associar os alimentos
saudáveis com atividades chatas, como ficar em casa
com os pais. Assim, eles preferem sair para barzinhos com os
amigos, e ir ao shopping comer alimentos do tipo fast food,
que são consideradas atividades prazerosas. Além disso, os
adolescentes tendem a viver o momento atual, não dando importância
às conseqüências de seus hábitos alimentares, que
podem ser prejudiciais a longo prazo.
Algumas pesquisas mostram que os adolescentes brasileiros
possuem hábitos alimentares inadequados, com baixo consumo
de produtos lácteos, frutas, verduras, legumes, e ingestão
excessiva de açúcar e gordura.
Entre os adolescentes, também é comum o consumo de alimentos
do tipo junk food, ou seja, alimentos com alta quantidade
de gordura (principalmente gordura saturada), açúcar,
colesterol ou sal e com pouca ou nenhuma quantidade de
vitaminas e minerais. E você sabe o que pode acontecer com
adolescentes que se alimentam dessa forma? Quando essas
preparações são consumidas de vez em quando e fazem
parte de uma alimentação adequada, elas podem ser aceitáveis,
mas, caso sejam consumidas com muita freqüência,
podem ser prejudiciais. Os adolescentes provavelmente estarão
consumindo uma menor quantidade de proteína, cálcio,
vitaminas e minerais e uma maior quantidade de gordura e
sal. Além desse hábito prejudicar o crescimento e desenvolvimento
desses adolescentes, poderá aumentar o risco de
desenvolverem obesidade, dislipidemias e outras doenças
crônicas não-transmissíveis, típicas, até pouco tempo atrás,
da população adulta.
Fast food ou refeição
rápida é o nome dado aos
alimentos que podem ser
consumidos rapidamente
como pastéis, coxinhas,
sanduíches e pizzas, entre
outros. Normalmente, são
vendidos em lanchonetes
e em grandes redes de
alimentação.
Dislipidemias são alterações
na quantidade de gordura no
sangue, como, por exemplo,
o colesterol. Nas próximas
unidades, você aprenderá
mais sobre o conceito de
dislipidemias.
UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
32
Gorduras saturadas estão presentes em alimentos
de origem animal como manteiga, banha, toucinho,
carnes e seus derivados, leite e derivados integrais.
Também existem em alguns óleos vegetais como o óleo
de coco. Essas gorduras, quando ingeridas em excesso,
aumentam o risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
Nos próximos tópicos, nós iremos estudar um pouco
mais sobre as doenças crônicas não-transmíssiveis.
Você sabia que pode contribuir com a melhoria da alimentação
dos adolescentes? E como você pode fazer isso?
Estimulando o consumo de alimentos saudáveis como frutas,
verduras e legumes e preparando receitas saudáveis,
principalmente as regionais, com menor quantidade de
óleo, sal e açúcar.
Os adolescentes passam a maior parte do tempo fora de casa,
eles ficam mais na escola e com amigos. Os dois últimos também
influenciam na escolha dos alimentos e estabelecem o
que é mais aceito no grupo. Por isso, é importante que uma
alimentação saudável seja estimulada na escola. Além do ambiente
escolar, deve-se lembrar que o grupo de amigos e o
próprio modismo divulgado na televisão, internet, jornais e
revistas, podem exercer influência sobre o hábito alimentar
dos adolescentes.
Outro ponto que influencia o comportamento dos adolescentes
é a família. Como a família pode interferir nos hábitos alimentares
dos adolescentes? Normalmente, quando o relacionamento
do adolescente com a família é desarmônico, principalmente
quando os pais são muito autoritários, eles utilizam
o alimento para mostrar sua rebeldia contra os seus pais. A rebeldia
é demonstrada em práticas alimentares erradas, como
recusar os alimentos saudáveis ou realizar dietas malucas.
Isso também pode ocorrer quando os pais não estabelecem
limites para os filhos. Por isso, é muito importante que os pais
coloquem limites, mas sem exagerar.
33 IMPORTANTE UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
Como você pode ver, a adolescência é uma fase da vida muito
complexa e, por isso, vários fatores devem ser levados em
consideração ao analisarmos a alimentação do adolescente.
Dessa forma, algumas estratégias podem ser realizadas para
estimular o consumo de alimentos saudáveis, como a sensibilização
do adolescente a partir de informações que mostrem
os benefícios que uma alimentação saudável pode fornecer.
Isto pode ser realizado pelos alunos em feiras, como as feiras
de ciências tradicionais, abordando os temas de alimentação
e nutrição; inclusão do tema alimentação saudável nas
disciplinas e nos eventos do calendário escolar como festa
junina, gincanas e outros eventos; a adoção de uma alimenta-
ção saudável nas cantinas escolares; realização de cursos de
capacitação dos donos de cantinas e educadores em parceria
com as faculdades de nutrição; adoção do “dia da fruta” como
início de um processo que estimule o consumo de frutas; entre
outros.
Identifique se a sua escola realiza alguma estratégia
que estimule o consumo de alimentos saudáveis.
Cite e explique em seu memorial a estratégia
que está sendo realizada em sua escola. Promova um
diálogo com a diretora, professores e funcionários e explique
a importância de a escola possuir estratégias que
estimulem a alimentação saudável. Você também pode
propor que o tema alimentação e nutrição seja abordado
nas disciplinas e entre nos temas do calendário
escolar. Não esqueça de registrar essa atividade em
seu memorial.
Adultos
A idade adulta inicia-se a partir de 18 anos de idade. Para a lei,
é a fase onde a pessoa possui capacidade de executar algumas
atividades como votar, contrair obrigações e ser responsabilizado
por seus atos, ou seja, é a idade caracterizada como
de amadurecimento legal.
Como os hábitos alimentares e de atividade física adquiridos
na infância e na adolescência tendem a permanecer na vida
adulta, é de fundamental importância que as crianças e os
adolescentes sejam orientados a possuírem uma alimentação
Entre 16 e 17 anos, o voto
é facultativo. Mesmo quem
tem o título não é obrigado a
comparecer às urnas no dia
da eleição. A partir dos 18
anos, ele se torna obrigatório.
UNIDADE 1 – Significado de Alimentação e Nutrição
34
saudável, a fim de que esta possa ser mantida na vida adulta.
Entende-se que esse processo de orientação começa na
escola, sendo o Programa Nacional de Alimentação Escolar
– PNAE, uma forma de auxiliar na formação de hábitos alimentares
saudáveis.
Nessa fase, é muito importante que os adultos continuem com
uma alimentação saudável para evitar doenças no futuro. Além
disso, o adulto é responsável pela formação dos hábitos alimentares
das crianças. É responsável pela compra e preparo
dos alimentos em casa, transmitindo seus hábitos alimentares
às crianças. Por isso, é importante que a família seja orientada
sobre o significado da alimentação saudável.
Com todas essas considerações, percebemos que a alimenta-
ção saudável é muito importante em todas as fases da vida.
Nunca é tarde para iniciar e colocar hábitos saudáveis de alimentação
em prática. O ideal é que eles existam desde cedo,
mas as mudanças na saúde de indivíduos adultos que melhoram
seus hábitos alimentares, também são notáveis. Essa melhora
pode ser uma forma de prevenir o surgimento de doen-
ças que estão relacionadas a uma alimentação inadequada.
2
História da alimentação
e nutrição no Brasil
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
36
Breve histórico das políticas e programas de
alimentação e nutrição no Brasil
As políticas e programas de alimentação e nutrição no Brasil
tiveram início na década de 1930, quando ficou definido que o
alimento essencial deveria ser um dos itens garantidos pelo
salário mínimo (instituído em 1940). No entanto, o salário mí-
nimo não era suficiente para fornecer uma alimentação adequada
para os trabalhadores. Esta situação levou a criação, em
1940, do Serviço de Alimentação e Previdência Social (SAPS)
cujos objetivos principais eram baratear o preço dos alimentos,
criar restaurantes para os trabalhadores e fazer com que
as empresas fornecessem alimentos para seus trabalhadores
em seus próprios refeitórios.
Práticas assistencialistas são aquelas que procuram
cuidar de um problema da sociedade, sem entretanto
tratar da causa do problema, mas sim do seu resultado.
Observe este exemplo: a fome é um grave problema em
vários países do mundo, porém ela é o resultado de vá-
rios outros problemas como, por exemplo, o desemprego
e a alta concentração de renda. As políticas que procuram
resolver a questão da fome apenas com o fornecimento
de alimentos para a população, podem ser consideradas
assistencialistas (pois não resolvem a causa do problema).
No entanto, sabemos que fornecer alimentos para uma população
que não tem condição de obtê-los é uma ação necessária,
mas não deve ser a única ação para resolver tal
situação. Aliada a esta ação devem vir outras estratégias
que ofereçam condições de trabalho e segurança para as
pessoas, e que dêem a elas a possibilidade de conseguir
adquirir seu próprio alimento.
Em 1945, foi criada a Comissão Nacional de Alimentação
(CNA). Essa comissão tinha como objetivo estudar e propor
normas para a política nacional de alimentação. Em 1952 a
Comissão estabeleceu o Plano Nacional de Alimentação que
teve como objetivos de trabalho a atenção à nutrição maternoinfantil,
a criação do programa da Merenda Escolar e a assistência
ao trabalhador. Esse plano considerava a desnutrição
o maior problema de saúde pública do país, isso porque ela
era um problema de saúde que atingia um grande número de
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
37 IMPORTANTE
pessoas. Porém, as ações do plano não trabalhavam de forma
incisiva a causa da desnutrição à época, ou seja, a fome.
A CNA foi extinta em 1972, mesmo ano em que foi criado o
Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), cuja fun-
ção era auxiliar o governo a formular a Política Nacional de Alimentação,
e a elaborar o Programa Nacional de Alimentação e
Nutrição (PRONAN), entre outras funções.
A primeira proposta feita pelo INAN, o PRONAN I, não teve
continuidade, durando pouco tempo. O PRONAN II, diferente
das ações anteriores, visava corrigir os problemas de alimentação
e nutrição no país, identificando a causa de tais problemas
e não apenas atacando suas conseqüências.
O conjunto de ações planejadas pelo INAN, de modo geral,
contribuiu para o avanço das políticas de alimentação e nutri-
ção no Brasil. No entanto, a falta de comprometimento político
com as causas sociais, dentre outros fatores, levou a uma
série de cortes de recursos financeiros para o programa, o
que impossibilitou sua continuidade. O PRONAN II foi extinto
em 1989, e o PRONAN III nunca foi implantado.
No período de 1990 a 1992, o INAN foi enfraquecendo, não
sendo capaz de desenvolver adequadamente suas atividades.
Nesse período, houve uma grande desestruturação dos programas
de alimentação e nutrição do país, sendo quase todos
extintos. Um dos pontos positivos desse período refere-se
ao uso dos estoques de alimentos do governo, por meio dos
Programas Gente da Gente I e II, para parte da população do
Nordeste atingida pela seca.
De 1993 a 1996 o governo comprometeu-se a combater a
fome. Em 1993 foi publicado o Mapa da Fome que trouxe informações
que ajudaram na elaboração inicial de uma Política
de Segurança Alimentar. Esse mapa identificou a existência de
32 milhões de indigentes no país.
A partir de 1993, ocorreu um grande movimento organizado
pela sociedade civil, ou seja, pessoas sem vínculo
com o governo. O movimento foi liderado pelo soció-
logo Herbert de Souza, o Betinho, e se chamava “Ação da
Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida”.
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
38
Em 1993, foi criado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar
(CONSEA), elaborando um Plano de Combate à Fome
e a Miséria, e que tinha como prioridade a geração de emprego
e renda, a democratização da terra, o combate à desnutri-
ção materno-infantil, a descentralização e o fortalecimento do
PNAE. Além disso, o CONSEA tentou criar novos programas
de alimentação e nutrição e reforçar a atuação do INAN.
No ano de 1994, a Lei no 8.913 definiu a descentralização
do PNAE. Isso significa que os Municípios, Estados
e Distrito Federal passaram a ter a responsabilidade
de planejar cardápios, comprar os alimentos, analisar a
qualidade dos alimentos e distribuí-los em seus territórios.
Com isso, ficou mais fácil adequar a alimentação escolar
para cada região, de acordo com sua cultura e necessidade.
Em 1994, o CONSEA apoiou a realização da I Conferência Nacional
de Segurança Alimentar. Ainda no mesmo ano, o Programa
Comunidade Solidária ocupou o lugar do CONSEA,
que foi desativado.
Como fruto do enfraquecimento institucional sofrido ao longo
dos anos, em 1997 o INAN foi extinto, sendo que as ações na
área de alimentação e nutrição por ele desenvolvidas foram
redistribuídas no Ministério da Saúde. Foi criada uma área
específica para a Alimentação e Nutrição, hoje chamada de
Coordenação Geral de Políticas de Alimentação e Nutrição –
CGPAN.
A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) foi elaborada
sob coordenação da CGPAN e foi aprovada no ano
de 1999, firmando o compromisso do Ministério da Saúde no
combate aos males relacionados à escassez alimentar e à pobreza,
assim como aos causados pela alimentação inadequada
e pelos excessos, como o sobrepeso e a obesidade. Esta
política é composta por sete diretrizes que orientam as ações
que devem ser feitas para o alcance destes objetivos. Ela foi
desenvolvida por meio da participação de várias pessoas, instituições
do governo e instituições não governamentais.
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
39 IMPORTANTE
A PNAN tem como diretrizes:
1) Estímulo às ações entre diferentes setores que visem
o acesso de todos aos alimentos: o setor de
saúde deve relacionar-se com outros setores do governo,
da sociedade civil e do setor produtivo que
possam auxiliar no acesso de todas as pessoas aos
alimentos.
2) Garantia da segurança e da qualidade dos alimentos e
da prestação de serviços neste contexto: os alimentos
consumidos pela população precisam ser de qualidade,
por isso deve haver uma forte ação da vigilância
sanitária.
3) Monitoramento da situação alimentar e nutricional:
deve haver um controle da saúde e nutrição da popula-
ção, em especial das gestantes e das crianças.
4) Promoção de práticas alimentares e estilos de vida saudáveis:
baseia-se no incentivo ao aleitamento materno,
divulgação de conhecimentos de alimentação, nutrição,
prevenção de doenças relacionadas a má alimentação,
entre outras.
5) Prevenção e controle dos distúrbios nutricionais e das
doenças associadas à alimentação e nutrição: prevenção
das doenças causadas pela falta de nutrientes
(como ferro, vitamina A e iodo) e das causadas pelo excesso
(como obesidade e diabetes mellitus).
6) Promoção de linhas de investigação: trata-se do desenvolvimento
de pesquisas com o objetivo de compreender
as situações e os fatores que interferem na saúde e
nutrição da população, para que possam ser definidas
as ações para a correção destes problemas.
7) Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos:
trata de fornecer conhecimentos e habilidades
para que as pessoas possam trabalhar a favor dos
direitos humanos, em especial, da alimentação
adequada.
Para conhecer mais sobre
a Política Nacional de
Alimentação e Nutrição
(PNAN) visite o endereço:
http://dtr2004.saude.gov.br/
nutricao/politica.php
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
40
Em 2003, o CONSEA foi reativado
com o nome de Conselho Nacional
de Segurança Alimentar
e Nutricional. Também em 2003,
foi criado o Programa Fome Zero,
como uma estratégia do Governo
Federal. Este programa é composto
por um conjunto de ações e
estratégias implementadas pelos
seguintes Ministérios: Desenvolvimento
Social e Combate a Fome,
Desenvolvimento Agrário, Saúde,
Educação, Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Trabalho e Emprego,
Integração Nacional, Fazenda e Planejamento.
O Programa trabalha com quatro tipos de enfoques diferentes:
1) ampliação do acesso aos alimentos;
2) fortalecimento da agricultura familiar;
3) geração de renda;
4) articulação, mobilização e controle social.
Com estas ações o Programa visa alcançar seu objetivo maior
que é assegurar o Direito Humano à Alimentação Adequada a
todas as pessoas, especialmente aquelas com dificuldades de
acesso aos alimentos.
Entre os programas que compõem o Fome Zero, podemos
destacar o Bolsa Família, que foi criado pela unificação de programas
já existentes, a saber: Bolsa Alimentação, Bolsa Escola,
Vale gás e Cartão Alimentação. A seguir, alguns dos programas
que fazem parte do Fome Zero:
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
41 IMPORTANTE
Programa Ação
Bolsa Família
Programa de transferência de renda
destinado a famílias em situação de
pobreza, com renda familiar de até
R$ 120,00 por pessoa.
Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE)
Programa que oferece pelo menos
uma refeição ao dia, visando atender
parte das necessidades nutricionais de
estudantes do ensino fundamental e do
ensino médio, durante a permanência
na escola.
Hortas comunitárias
São desenvolvidas em locais reconhecidos
pela comunidade, onde há concentração
de famílias e pessoas com
baixo poder aquisitivo e carência alimentar,
visando incentivar e apoiar a
implantação de pequenas unidades de
produção de refeições saudáveis.
Alimentação e nutrição dos
povos indígenas
Ação que realiza o cadastramento
dos povos indígenas, garantindo a
sua participação nos programas do
governo.
Programa de Alimentação do
Trabalhador (PAT)
Tem o objetivo de melhorar as condi-
ções nutricionais dos trabalhadores.
Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura
Familiar
Valoriza e divulga a agricultura familiar
para o desenvolvimento social e
econômico sustentável no meio rural.
Programa de Aquisição de
Alimentos da Agricultura
Familiar
Incentiva a produção de alimentos
pela agricultura familiar, permitindo a
compra, a formação de estoques e a
distribuição de alimentos para pessoas
necessitadas. Os produtos também
são distribuídos na alimentação
escolar de crianças, em hospitais e
entidades beneficentes.
Para conhecer como o
Programa de Aquisição de
Alimentos funciona visite
o site www.mds.gov.br/
programas/ e entre na parte
referente ao PAA.
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
42
Faça uma pesquisa verificando se há na sua cidade
ou município alguma associação de agricultores
locais. Caso haja, verifique com o(a) nutricionista
ou coordenador(a) da alimentação escolar se esses
agricultores produzem alimentos que podem ser usados
na alimentação escolar. Por fim, se houverem alimentos,
converse sobre a possibilidade de, por meio do programa
do PAA, esses agricultores serem fornecedores de
alimentos para as escolas.
Promoção da saúde
No módulo 12 – “Políticas de alimentação escolar”, você poderá
conhecer os princípios e a maneira como funciona o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que fornece o
recurso para a compra dos alimentos que você prepara. Neste
momento, vamos dar atenção a um dos objetivos deste programa,
do qual você participa como responsável pelo preparo
da alimentação e como educador(a) alimentar.
De acordo com as normas de funcionamento do PNAE, este
programa possui como objetivo atender às necessidades nutricionais
dos alunos e à formação de hábitos alimentares
saudáveis durante a permanência em sala de aula, contribuindo
para o seu crescimento, desenvolvimento, aprendizagem e
rendimento escolar.
No Módulo 11 – “Alimentação saudável e sustentável”,
iremos aprender sobre as necessidades nutricionais.
Após fazer a leitura dos módulos anteriores, você deve ter notado
como o(a) educador(a) alimentar possui um papel fundamental
para a formação de hábitos alimentares saudáveis das
crianças da escola onde trabalha. Talvez você esteja se perguntando
como pode fazer isso. A resposta é: contribuindo
para a promoção de uma alimentação saudável. É sobre este
assunto que trataremos agora e para começar, vamos saber o
Para saber mais sobre os
programas do Fome Zero
visite o endereço http://
www.fomezero.gov.br/
programas-e-acoes.
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
43 IMPORTANTE
que é a promoção da saúde para, em seguida, entendermos o
que é a promoção da alimentação saudável.
Vamos começar descobrindo o significado da palavra promo-
ção. De acordo com a definição do Novo Dicionário da Língua
Portuguesa (FERREIRA, A. B. H., 1986), promoção significa:
dar impulso a; trabalhar a favor de; favorecer o progresso de;
fazer avançar; fomentar.
E saúde, você sabe o que significa o termo saúde
?
Antes de continuar sua leitura, aproveite este momento
para pensar sobre o que significa, para você, ter saúde.
Há muito tempo pesquisadores vêm procurando uma defini-
ção da palavra saúde, várias já foram utilizadas e até hoje não
há um conceito que agrade a todos. Porém, a grande maioria
concorda em um ponto: saúde não é apenas a ausência, ou
seja, a falta de doenças. Se na sua reflexão você concluiu que
uma pessoa tem saúde simplesmente quando não está doente,
preste uma atenção especial ao que iremos aprender a
seguir.
Um dos conceitos mais aceitos diz que saúde é um estado habitual
de equilíbrio do organismo, onde há o completo bemestar
físico, mental e social. Vamos entender melhor cada um
desses pontos.
O bem-estar físico está relacionado ao corpo humano, à capacidade
que temos de realizar todas as funções para que
possamos sobreviver, e também à capacidade que temos de
realizar atividades do dia-a-dia. Quando falamos em saúde é
geralmente do bem-estar físico que as pessoas lembram, mas
como estamos observando, existem outras formas de bemestar.
O bem-estar mental está relacionado às condições da mente
humana, sendo que esta pode sofrer com doenças. Além
disso, a saúde mental também está relacionada com a capacidade
de cada pessoa utilizar todo o potencial que tem para
fazer as atividades do dia-a-dia. Já o bem-estar social está
relacionado com a vida em comunidade; ele ocorre quando
as necessidades de todos são satisfeitas.
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
44
Para simplificar, podemos dizer que a saúde ocorre quando as
necessidades básicas do homem, tais como alimentação, trabalho,
lazer, educação, moradia e transporte entre outras, são
atendidas ao mesmo tempo em que não há doença.
Agora que já sabemos o que significa a palavra promoção e
a palavra saúde, fica mais fácil entender o que Promoção da
Saúde quer dizer. Vamos juntar os significados:
Promoção da Saúde
Trabalhar a favor das necessidades básicas do homem
(alimentação, trabalho,
lazer, educação, moradia,
transporte etc.) e cuidar para
que não se desenvolvam doenças.
Até a década de 1980, predominavam ações de saú-
de voltadas para a prevenção, ou seja, que buscavam
diminuir e evitar casos de doenças na população. Para
isso, eram desenvolvidas ações específicas para cada
doença que tinha maior risco de acontecer. No entanto,
com a evolução dos estudos tem-se dado uma atenção
maior para as ações de saúde que trabalham a sua promoção.
Nos parágrafos abaixo entenderemos melhor este
assunto.
Com a realização de um evento que se chamou Primeira
Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, na
cidade de Ottawa, Canadá, no ano de 1986, foi elaborada
uma carta (Carta de Ottawa) muito importante, que falava
sobre a promoção da saúde.
De acordo com esse documento, “promoção da saúde” é o
processo que busca aumentar a capacidade dos indivíduos
e das comunidades para controlar sua saúde, no sentido
de melhorá-la.
Ao observar as duas orientações, uma de prevenção e outra
de promoção da saúde, verificamos que a segunda é
mais ampla, porque, além de considerar a ausência de
doenças, também confere importância à melhora das
condições de vida da população.
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
45 IMPORTANTE
Promoção da alimentação saudável
Agora já sabemos o que é a promoção da saúde, vamos então
compreender o que é a promoção da alimentação saudável.
Para isso vamos precisar conhecer o Direito Humano à Alimentação
Adequada e a Segurança Alimentar e Nutricional.
São muitas novidades, não é mesmo? Então vamos lá!
É possível que você saiba quais são os direitos humanos. Pois
bem, se ainda não sabe, essa é uma ótima oportunidade para
você conhecê-los. Direitos humanos são aqueles que os seres
humanos têm pelo simples fato de nascer, não importa
seu sexo, cor, religião, local de nascimento, idade ou qualquer
outra característica.
Em 1984, foi assinada a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e nela são descritos os direitos que
todos os seres humanos possuem. Segundo esse documento,
todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade, tendo direito a: vida, liberdade, segurança pessoal,
proteção da lei, ter uma nacionalidade, trabalho, livre
escolha do trabalho, repouso e lazer, educação, dentre
outros.
De acordo com o artigo no 25 da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, toda pessoa tem direito a um nível de vida
que ofereça a si e a sua família a saúde e o bem-estar, principalmente
quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento,
à assistência médica e aos serviços sociais.
É isso mesmo, a alimentação é um direito de todos! E está
relacionada ao que se chama Segurança Alimentar e Nutricional
(SAN), que é a realização do direito de todos a uma
alimentação saudável, acessível, de qualidade, em quantidade
suficiente e de modo permanente. Para que ela ocorra, o acesso
aos alimentos não pode comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais (como educação, vestuário, lazer,
etc.) e precisa respeitar as características de cada região.
Segundo o Conselho
Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional
(CONSEA), situações de
insegurança alimentar
e nutricional podem
ser detectadas a partir
de diferentes tipos de
problemas, tais como
fome, obesidade,
doenças associadas à má
alimentação, consumo de
alimentos de qualidade
duvidosa ou prejudicial
à saúde, produção de
alimentos que causam
prejuízos ao ambiente, com
preços abusivos e imposição
de padrões alimentares que
não respeitem a cultura
local.
UNIDADE 2 – História da alimentação e nutrição no Brasil
46
O CONSEA convocou, em 1994, a I Conferência Nacional
de Segurança Alimentar. Tratou-se de um encontro
de pessoas interessadas na causa da Segurança
Alimentar e Nutricional, que se reuniram para discutir
os problemas relacionados ao tema e definir estratégias
para corrigi-los. Nesse primeiro encontro, foram definidas
as diretrizes para a Política Nacional de Seguran-
ça Alimentar e Nutricional. A II Conferência Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional ocorreu em 2004, um
ano após o retorno do CONSEA nacional. Nela foram feitas
propostas de ações para a Política Nacional de Seguran-
ça Alimentar e Nutricional. A III Conferência Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional aconteceu no ano de
2007 e suas principais atividades foram elaborar diretrizes
e prioridades para a construção do Sistema Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional, e a formulação e implementação
da Política Nacional de Segurança Alimentar
e Nutricional. Tudo isso com a finalidade de realizar
o direito humano à alimentação adequada e da soberania
alimentar.
Mas e a promoção da alimentação saudável?
Ela faz parte da promoção da
saúde (que visa satisfazer as
necessidades básicas do
homem, sendo que uma é
a alimentação) e está totalmente
envolvida com
a Segurança Alimentar e
Nutricional e o Direito Humano
à Alimentação Adequada.
No módulo 15 você
encontrará várias formas prá-
ticas de contribuir para a promoção
da alimentação saudável.
3
Formação da cozinha
brasileira
UNIDADE 3 – Formação da cozinha brasileira
48
Vamos começar descobrindo o significado da palavra culiná-
ria. Segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa (FERREIRA,
A. B. H., 1986), a culinária é a arte de cozinhar, ou seja,
confeccionar alimentos, e foi evoluindo ao longo da história
dos povos para tornar-se parte da cultura de cada um. Cada
povo tem uma culinária diferente, um modo de preparar seus
alimentos. De acordo com a região, mudam os ingredientes,
as técnicas de preparo e até os utensílios.
A culinária também costuma refletir a religião de cada povo.
Por exemplo, a carne de porco é proibida entre judeus e mul-
çumanos e a carne de vaca entre os hindus. Também pode
refletir algumas opiniões sobre o uso da carne na alimentação
como é o caso do vegetarianismo, onde as pessoas não comem
alimentos de origem animal.
Você sabia que a culinária do Brasil sofreu influência
de vários países? No tópico abaixo, vamos aprender
como cada um destes países contribuiu com a cozinha
brasileira.
Contribuições de outras culturas
O Brasil possui uma culinária muito original. Ao longo dos sé-
culos, o brasileiro aprendeu e transformou a culinária européia,
principalmente a de Portugal, adicionando as especiarias
trazidas do Oriente e os ingredientes da culinária indígena e
africana.
A culinária indígena já estava presente quando o país foi descoberto
e isso sem agredir ou colocar em risco o meio ambiente.
Foi a partir das trocas alimentares em conjunto com a
mistura de raças, culturas, gostos, cores e aromas que surgiu
uma culinária rica: a brasileira.
Os índios contribuíram de vá-
rias maneiras para a nossa
culinária, segundo os
recursos que cada tribo
possuía. Por exemplo, de
acordo com a forma de
obter a caça (arco e flecha,
lanças e machado de pedra); no
49 IMPORTANTE UNIDADE 3 – Formação da cozinha brasileira
modo de pescar; na coleta de frutas nativas como caju, goiaba,
cupuaçu, castanha-do-pará e no cultivo da mandioca e do
milho.
A cozinha de nossos índios era composta de carnes, peixes,
legumes, ervas, milho, muita mandioca e alguns grãos. As preparações
dependiam dos conhecimentos e dos utensílios que
cada tribo possuía. Algumas tribos não sabiam usar o fogo e
comiam peixe cru ou assado sobre a pedra aquecida pelo sol.
Nesta pedra, eles colocavam o alimento cobrindo com outra
pedra e jogando terra por cima. Já os índios que conheciam
o fogo, preparavam peixe assado envolto em folha de bananeira,
enterrado e coberto por brasas e usavam as vasilhas de
barro para cozinhar raízes, tubérculos, castanhas etc.
Assavam carnes e peixes no moquém, que são espetos paralelos,
sobre a brasa, pioneiro dos churrascos de hoje. Como
tempero usavam a pimenta, às vezes pura ou numa mistura
com sal, a qual chamavam ionquet – colocada diretamente na
boca, junto às carnes. Raramente cozinhavam os alimentos
na água. Quando o faziam, era em vasilhas de cerâmica. Não
conheciam fritura – técnica aprendida bem depois, com os
portugueses, que usavam para isso óleos vegetais (de oliva) e
gordura animal.
Fritura é uma técnica culinária onde os alimentos (carne,
peixe, frango ou legumes) são mergulhados em óleo
(ou outro tipo de gordura) a alta temperatura.
Como você pode observar, a farinha de mandioca, os alimentos
assados e cozidos em folhas de bananeira, as comidas feitas
com milho, o uso moderado do sal e condimentos, o uso
dos utensílios de cerâmica e o consumo de alimentos frescos
foram herdados dos índios.
Condimentos são substâncias utilizadas para realçar o
sabor dos alimentos ou para lhes dar sabor diferenciado.
Exemplos de condimentos utilizados na culinária brasileira:
açafrão, alho, canela, cebola, coentro, entre outros.
UNIDADE 3 – Formação da cozinha brasileira
50
Uma das raízes mais importantes era a mandioca, considerada
a base da alimentação de muitas tribos. Da mandioca,
eles retiravam a farinha, a tapioca, o polvilho e o tucupi. Esses
produtos eram usados com certas carnes de caça assadas,
torradas ou trituradas no pilão, a famosa paçoca, ou serviam
para preparar mingaus, beijus e molhos. Desta forma, a farinha
de mandioca, um dos produtos mais consumidos no País,
e os outros produtos derivados da mandioca como a tapioca,
foram uma das maiores contribuições da culinária indígena.
Tucupi é um molho de cor amarela extraído da raiz
da mandioca brava, que é descascada, ralada e espremida.
Depois de extraído, o molho “descansa” para que a
goma se separe do líqüido. Inicialmente venenoso devido
à presença de um ácido, o líqüido é cozido (processo que
elimina o veneno) por horas, podendo, então, ser usado
como molho na culinária. O caldo obtido é acrescido de
alfavaca e chicória, ervas que caracterizam o tucupi.
Várias frutas eram utilizadas na alimentação e preparo de bebidas,
como, por exemplo, o caju. Os índios colhiam as frutas,
mas não as plantavam. O doce em sua cultura vinha do mel
de abelha, que era consumido puro, como simples gulodice
ou misturado a raízes e frutas, no preparo de bebidas fermentadas.
Nossa cozinha teve origem também nos hábitos dos escravos
negros, trazidos principalmente de Guiné e Angola, para preencher
a escassez de mão-de-obra nos trabalhos agrícolas durante
a colonização. Porém, inicialmente, a cozinha dos escravos
não conseguiu, no Brasil, reproduzir inteiramente os pratos
típicos da sua terra. Eram ignorados, pois era considerada
uma culinária da senzala. Com o tempo, a população negra foi
aumentando e sua cultura começou a influenciar a população
brasileira, principalmente em relação à culinária, com algumas
técnicas de cocção e conservação de alimentos.
Uma das contribuições mais importantes da cozinha africana
é o azeite de dendê, o coco-da-bahia, o quiabo (ingrediente
indispensável na culinária africana), a cebola, o alho e a pimenta
malagueta. A palmeira de onde o dendê é extraído veio
da África para o Brasil nas primeiras décadas do século XVI.
Todos os pratos trazidos da África foram recriados pelos braA
paçoca é, geralmente, a
carne ou o peixe pilados
(esmagados) e misturados
com a farinha.
Técnicas de cocção são
os métodos de cozimento,
como assar, grelhar, cozer,
entre outros.
Guiné e Angola são países da
África
51 IMPORTANTE UNIDADE 3 – Formação da cozinha brasileira
sileiros, que passaram a usar o azeite de dendê e outros alimentos
locais.
O uso do leite também foi introduzido pelos negros, pois estes
já estavam habituados com a criação de cabras, vacas e carneiros.
Na Bahia, onde um grande número de escravos negros
se instalou, pode se observar uma forte influência africana na
culinária. Alguns exemplos de pratos são o acarajé, o abará, o
vatapá e o caruru.
A escrava negra também apresentou um papel de destaque
na culinária brasileira, como cozinheira do “senhor branco”,
onde demonstrou ser uma ótima quituteira. Foi ela, certamente,
quem preparou a primeira feijoada, um prato realmente
brasileiro, que nasceu na senzala e era feito com as partes menos
nobres do porco, que sobravam da mesa dos senhores.
Resumindo, a feijoada é o resultado das condições de pobreza
em que os negros
viviam e, foi a partir
de restos de carnes,
que eles criaram um
dos pratos típicos
mais apreciados em
todo o Brasil.
O feijão era apreciado tanto por africanos como por portugueses,
o que o levou a ser um prato de destaque na mesa do
brasileiro, tornando-se prato nacional, consumido pelos ricos
e muitas vezes sendo o único alimento do pobre.
O caruru é outro prato típico da culinária africana, feito com
inhame, que manteve o nome indígena, mas com outros ingredientes
como galinha, peixe, carne de boi ou crustáceo.
Outras receitas foram surgindo com o tempo, como a rapadura
e as comidas de milho e coco, como canjicas, munguzás,
angus e pamonhas.
Os negros também não conheciam a fritura, e as bebidas, só
as fermentadas feitas a partir de palmeira (dendê), sorgo e mel
de abelha.
Os europeus, principalmente os portugueses, contribuíram
com diversos tipos de alimento para a formação da culinária
brasileira. Eles tentaram reproduzir, por aqui, as características
de sua terra distante. Por isso, eles trouxeram o curral, o quintal
e a horta. No curral, eles criavam o boi, o porco domesticado,
o bode, o carneiro e a galinha, e assim veio uma grande
O sorgo é um cereal como o
trigo, o arroz e o milho. Ele é
usado na produção de farinha
para panificação, amido
industrial, álcool e como
forragem de solo.
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novidade: o ovo. Além disso, a partir desses animais, eles
começaram a fabricar queijo, requeijão, embutidos e defumados.
No quintal, plantavam limão, laranja, melão, melancia,
maçã e figo, e, na horta, acelga, alface, berinjela, cenoura,
coentro, cebolinha e couve.
Outra contribuição marcante foi na fabricação de bebidas
como o licor, fabricação de doces e conservas, dentre outros
produtos. Exemplos de doces: pudim de iaiá, arrufos de sinhá,
bolo de noiva, pudim de veludo.
Alguns ingredientes importantes foram introduzidos na culinária
brasileira como o coco, o sal, a canela em pó misturada
com açúcar e algumas receitas como sarapatel, o sarrabulho,
a panelada, a buchada e o cozido.
Diversidade e riqueza da alimentação regional brasileira
Agora que já sabemos as contribuições de outras culturas na
nossa culinária, vamos apresentar a diversidade e riqueza da
comida das cinco regiões do nosso país.
Região Norte
Quando os portugueses colonizaram
o Brasil, os índios desta região já conheciam
a mandioca e, até hoje, essa
raiz é o prato típico da cozinha nortista.
Podemos citar novamente o tucupi,
que é um molho feito a partir
da mandioca. O pato no tucupi é o
prato mais famoso no Pará.
Na Região Norte, por causa da presença de rios, predominam
os peixes de água doce, sendo os mais conhecidos o tambaqui,
o tucunaré e o pirarucu. O pirarucu é chamado de “bacalhau
da Amazônia” e é conservado pelo processo de salga.
As frutas silvestres como açaí, murici, cupuaçu e pupunha são
utilizadas para preparar sorvetes e sucos de sabores indescritíveis.
A pupunha também é usada cozida com sal para substituir
o pão.
Conheça alguns pratos
típicos da culinária brasileira
no site:
http://www.brasilcultura.
com.br/destaque.
php?menu=106&id=25
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Exemplos de frutas: açaí, bacaca, buriti, taperebá, ginja, pupunha,
murici, uamari, cupuaçu, bacuri, camapu, uxi, angá,
piquiá, camutim, cutitiribá, grumixama, cubiu, guaraná.
Ao visitar a Região Norte, encontramos, nos mercados locais,
vários pratos típicos como o tacacá, que é feito com o caldo
de tucupi e folhas de jambu. Além disso, existe uma grande
variedade de pimentas, e de outras iguarias como maniçoba,
caldeirada de jaraqui, tambaqui assado na brasa, cuia de tacacá
e os cremes de bacuri e de cupuaçu.
Como você pode notar, a comida da Região Norte caracterizase
pela excentricidade em tudo, principalmente no sabor, o
que demanda certo tempo de adaptação para apreciar os pratos
locais.
Região Nordeste
Em todos os estados da Região Nordeste, desde o Maranhão
até a Bahia, influências de diversos países, somadas às práticas
dos índios de comer farinha de mandioca, milho, carnes,
peixes e frutas silvestres, resultaram em uma cozinha rica e
variada, que, com o passar do tempo, caracterizou a comida
do Nordeste. Na maioria dos estados, as influências estrangeiras
foram preservadas. Podemos citar a galinha ao molho
pardo, feita com o sangue da galinha dissolvido em vinagre,
como sendo uma adaptação da “galinha-de-cabidela” de Portugal.
Já a carne-de-sol, alimento indispensável no Nordeste,
teve origem, possivelmente, no hábito dos índios de assar a
caça ao moquém para conservá-la por algumas semanas.
Nessa região, os pratos à base de feijões, inhame, macaxeira,
leite de coco, azeite de dendê, doces, peixes, crustáceos e frutas
nativas são os mais encontrados, destacando-se na região
a culinária baiana, com uma grande influência africana, e a de
Pernambuco, com pratos como buchada de bode e alfenins,
um doce de açúcar branco de cana-de-açúcar.
No Ceará, há uma grande variedade de pratos com peixe, camarão
e lagosta e a famosa rapadura feita de açúcar de cana.
No Rio Grande do Norte, além de peixes e crustáceos, é muito
conhecida a carne-de-sol, servida com farofa e feijão verde.
Em Alagoas, pratos com frutos do mar e também crustáceos
de água doce, como o conhecido sururu.
O moquém é um gradeado de
madeira para assar peixe ou
carne pelo calor, sem contato
direto com a chama.
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Outros pratos típicos também fazem parte da culinária nordestina
como buchada, sarapatel, arroz-doce, tapioca, caldo-decana,
dobradinha (feijão branco cozido com bucho de boi), galinha
de cabidela, mão-de-vaca, quibebe (pirão de jerimum),
carne-de-sol (servida com farofa e feijão verde), peixes e
crustáceos ao leite de coco, feijão e arroz ao coco, amendoim
torrado e cozido, canjica, pamonha, mungunzá, cuscuz, milho
cozido e assado, acarajé, abará, caruru, vatapá, bolos de macaxeira
e de mandioca, pé-de-moleque, umbuzada (feita com
umbu, leite e açúcar), entre outros.
Além dessas receitas, existem alguns doces ou sorvetes de
frutas regionais: mamão (verde), goiaba, caju, pinha, sapoti,
banana, tangerina, mangaba, coco, manga, umbu, jaca, abacaxi
e araçá.
Região Centro-Oeste
Com a mudança da capital do Brasil do Rio de Janeiro para
Brasília, em 1961, e com a abertura da rodovia Belém-Brasília,
essa região, ainda pouco conhecida e de difícil acesso, come-
çou a ser desbravada, o que permitiu que inúmeras famílias
de colonos dos estados do Sul, conhecedores da agricultura
e pecuária modernas, se estabelecessem como proprietários
dessas novas terras cultiváveis.
Antes da colonização, a culinária da região se baseava apenas
nos recursos do meio ambiente, com o uso abundante da pesca
e da caça, já que existem dois grandes rios nessa região. Com a
influência da cozinha do Sul, a culinária desse local se ampliou
e alguns pratos foram incluídos, como o churrasco gaúcho,
principalmente pela existência de grandes rebanhos na região,
mas sem comprometer os pratos típicos já existentes.
O consumo de peixes de água doce, aves e caça do Pantanal
e erva-mate é bastante comum. Por exemplo, o famoso Pacu
de Mato Grosso. As frutas do cerrado também se destacam,
principalmente o pequi, uma fruta de cheiro forte e obrigatória
na cozinha goiana. O arroz com pequi é uma das maneiras de
prepará-lo e constitui um prato típico local.
Arroz com pequi
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Região Sudeste
Os estados mais ricos do Brasil estão na Região Sudeste e sua
comida está ligada a vários fatores como a permanência dos
índios no litoral do Espírito Santo, a influência dos imigrantes
no estado de São Paulo, espanhóis e árabes no Rio de Janeiro,
alemães e italianos no Espírito Santo, além da influência dos
bandeirantes que foram em busca do ouro em Minas Gerais.
Os bandeirantes eram pessoas que penetravam no
interior do Brasil em busca de riquezas minerais como o
ouro e a prata.
As grandes cidades dos estados do Sudeste, São Paulo e Rio
de Janeiro, se destacam pela grande variedade de sua cozinha
devido à influência de outros países como Itália, Japão, Coréia,
China, Alemanha, Polônia, entre outros, bem como do grande
número de visitantes que recebem de outras regiões do país e
do exterior em busca de lazer e negócios. Em São Paulo, por
exemplo, os italianos foram os que mais influenciaram a culinária,
inclusive a brasileira. Quem não gosta de comer uma
pizza ou uma lasanha? Os italianos também trouxeram o pão
e, junto com a criatividade do brasileiro, o pão se tornou um
dos produtos mais importantes na indústria brasileira. Os italianos
também inventaram o salsichão e o espeto corrido.
Os espanhóis, os árabes e os japoneses também se destacam
nesses estados com algumas preparações como paelha, quibes,
esfihas, grão-de-bico, doces de gergelim, sushi e sashimi.
Já no Rio de Janeiro, os portugueses foram os que mais
influenciaram a culinária carioca com “os petiscos de padaria”,
como os risoles de camarão ou palmito, as coxinhas com
requeijão e o bolinhos de bacalhau.
Além dessas influências estrangeiras, existem alguns pratos
típicos como o cuscuz salgado, o cuscuz paulista, em São Paulo,
e a feijoada carioca com o feijão preto, no Rio de Janeiro.
Em Minas Gerais, para levar nas suas viagens, os bandeirantes
inventaram o virado paulista, que é uma preparação
feita à base de feijão, farinha de milho, toucinho, cebola e
alho. Porém, como o ouro da região se esgotou, eles foram
obrigados a mudar de atividade e deram inicio à criação de
animais domésticos e à pecuária leiteira, o que transformou
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o estado em um grande produtor dos derivados do leite,
como o famoso queijo de Minas, requeijões, iogurtes, pães
de queijo, biscoitos de polvilho, manteigas, goiabada cascão
e doces de leite.
Pão de queijo, queijo de minas e curado.
Mas a comida mineira nunca foi influenciada pela cultura estrangeira,
sempre permanecendo fiel às suas origens. O tutu
com torresmo, feijão-de-tropeiro, angu, couve à mineira, costela
e lombo de carne e os variados pratos a base de milho
como curau, pamonha, bolo de milho verde, cuscuz de fubá,
broa de fubá e canjica são algumas das delícias da cozinha
mineira.
No Espírito Santo, o prato típico que demonstra fortemente
a cultura dos índios é a moqueca de peixe e camarão à base
de coentro e urucum (aquele corante vermelho que os índios
usam para pintar o corpo). Essa moqueca não tem influência
africana já que não tem dendê nem coco. A torta capixaba é
outro prato popular do Espírito Santo. Ela é assada em forno
e frigideira, sendo feita com bacalhau, peixe fresco, camarão,
ovos e muitos temperos, inclusive o famoso colorau.
O urucum é vendido no mercado com o nome de colorau,
mas pode ser confundido com a páprica, um pó vermelho,
mas feito à base de pimentão vermelho.
Região Sul
A Região Sul, composta pelos estados do Paraná, Santa Catarina
e Rio grande do Sul, foi a que mais sofreu influência
dos imigrantes, já que o clima da região era parecido com o
dos seus países de origem. Os italianos, alemães, poloneses,
entre outros se estabeleceram principalmente em atividades
agrícolas.
O feijão-de-tropeiro é
uma homenagem aos
desbravadores de sertões
e inclui feijão, toucinho e
carne-de-vento ou seca,
acompanhados por farinha de
mandioca.
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UNIDADE 3 – Formação da cozinha brasileira
Nas regiões serranas do Rio Grande do Sul, as famílias italianas
começaram a cultivar uvas para a produção de vinhos. Em
casa, as mulheres preparavam a macarronada e a polenta.
Os alemães dedicaram-se à plantação de frutas européias
como maçãs, pêras, ameixas, pêssegos e uvas. Eles também
cultivaram o trigo e o centeio, para fabricar o pão preto integral,
além de hortaliças como o repolho, para a produção do
chucrute (é o repolho fermentado em salmoura) e, com a cria-
ção de porcos, eles produziram suas lingüiças e embutidos. Já
os poloneses contribuíram com o pão-de-leite e sopas.
No Sul, onde se encontram grandes rebanhos bovinos e ovinos,
a população consome churrasco de carne e lingüiças assadas
na brasa, acompanhadas por arroz branco, salada de
maionese, farinha de mandioca torrada, macaxeira cozida,
saladas verdes e pão. Outros pratos tradicionais são: guisado
no pau, pernil de cordeiro, costelão, churrasco de ovelha,
tripa grossa, barreado paranaense, comida tropeira, porco no
rolete, pinhão e outros. Os gaúchos, em particular, consomem
bastante o chimarrão, um chá quente feito com as folhas de
mate amargo trituradas.
Típico gaúcho tomando chimarrão.
Ao final dessa viagem por todas as regiões do nosso país,
após conhecermos vários pratos típicos, seria ainda possível
reconhecer uma comida típica brasileira? Apesar da culinária
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brasileira ter sofrido tantas influências, a comida brasileira que
mais representa nosso hábito alimentar é o feijão com arroz.
Porém, devido às condições econômicas do país, que afetam
grande parte do povo brasileiro, e as mudanças nos hábitos
alimentares ao longo dos anos, o arroz e o feijão vêm sendo
substituídos por outros alimentos menos nutritivos como a
batata, o macarrão e a farinha. Estas mudanças afetam a saúde do brasileiro e, por isso, o feijão e o arroz devem voltar a
fazer parte da sua alimentação básica.
A mistura de arroz e feijão fornece grande parte dos nutrientes
necessários para manter a saúde do nosso corpo, inclusive a
das crianças. Por isso, você, como educador alimentar, pode
estimular o consumo dessa mistura.
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